domingo, maio 28, 2006

Vida estúpida 2003

De facto, sinto a falta de estar apaixonada, desse clímax que nos faz sonhar e sorrir para as estrelas. Há três anos que não sei como é essa sensação de amar alguém e lutar por um ser que julgava que me fizesse feliz. Hoje, mais longe dessa realidade, sei que não é propriamente o ser amado que cria essa bela sensação de estar apaixonada, talvez seja apenas o sonho que julgamos estar perto da realidade, talvez seja a esperança numa vida melhor, talvez seja uma terapia que nos faz esquecer as amarguras da vida. É disto que tenho saudades, não de me envolver com alguém, não das emboscadas para agradar o ser amado, não dos telefonemas, das idas ao cinema e das conversas à porta de casa sob a luminosidade da lua cheia. Essa esperança fazia-me viver, sentir a minha respiração, sonhar e gostar de mim mesma.
(...)
Durante três anos também vivi, mas de maneira diferente. As realizações profissionais alegraram-me mas nunca conseguiram preencher o vazio deixado pelo palerma do Eduardo. É mesmo palerma porque me pôs numa depressão e atreveu-se a pensar que eu o amava a sério, mas era a brincar, como sempre o foi. É, nunca amei ninguém a sério e nem sei se algum dia isso acontecerá. A brincadeira da paixão transforma a realidade e os sentimentos confundem-se, precipitam-se, tornam-se pouco claros. Foi isso que aconteceu com o Eduardo, além da minha preocupação com os traumas dele e com a sua terrível falta de afecto familiar. Não o conseguiria deixar sozinho, mergulhado numa solidão impiedosa, e, é estranho o que vou dizer, mas fiquei muito feliz quando ele encontrou a mulher da vida dele... libertei-me de uma paixão opressiva, depressiva e monótona. Como disse anteriormente, não era o Eduardo que me alegrava, pelo contrário, fazia-me sentir indisposta e inútil. O que me faz sentir saudades era a sensação de julgar amar, de ter ainda a réstia de esperança de encontrar no palerma do Eduardo vestígios do meu príncipe.
(...)
Claro que te agradeço teres me dado a oportunidade de conhecer melhor o Eduardo e de me certificar de que ele não era, de maneira nenhuma, o meu príncipe, de que tudo não passava de um engano da minha imaginação. E o trauma? Sabes que fiquei traumatizada, não sabes? Sabes que penso que da próxima vez vai ser igual, que vou sofrer da mesma forma, que vou ser gozada e que vou cair numa depressão ainda pior. Achas que só por ter um trauma de paixões é motivo suficiente para me deixares sozinha toda a vida? Achas que não sou capaz de superar esse trauma? Dá-me uma oportunidade! Quero vencer todos os traumas, todas as decepções, todo o vazio, toda a solidão.

Abril 2003

Depois pensei no Eduardo. Na falta que me faz amar alguém. Na falta que me faz sonhar com alguém. Que saudades tenho eu de amar alguém! O Eduardo nunca me amou mas foi positivo amá-lo. Aceitar a decepção de ele não ser o príncipe encantado e de ainda assim continuar a amá-lo, a amar um ser diferente do sonho, um ser com defeitos. Depois olhei para ti e imaginei-te como outro Eduardo. Tão bonito que ele é e por dentro como será? Tão atraente que ele é e a personalidade como será?
(...)
Pensar que estás à minha frente e eu te persigo cega, doente, obsessiva, como era com o Eduardo. Dá-me vómitos pensar nisso, numa vida assim.

Julho 2003
Sandra Bastos

Sem comentários: