segunda-feira, março 17, 2008

Mar Sonoro

"Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais discreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim."

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, março 06, 2008

quarta-feira, março 05, 2008

o amor

"Tinha de ensiná-la a pensar no amor como um estado de graça que não era um meio para nada, mas sim um princípio e um fim em si mesmo."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

para lá do amor

"Seguiam em silêncio como dois velhos esposos escaldados pela vida, para lá das armadilhas da paixão, para lá das trapaças brutais das ilusões e dos reflexos dos desenganos: para lá do amor. Pois tinham vivido juntos o suficiente para se darem conta de que o amor era amor em qualquer tempo e em qualquer lugar, mas tanto mais denso quanto mais próximo da morte."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

um único ser dividido

"Acabaram por se conhecer tão bem que em menos de trinta e dois anos de casados eram um único ser dividido e sentiam-se incomodados com a frequência com que adivinhavam, sem querer, os pensamentos, um do outro, ou pelo acidente ridículo de um se antecipar, em público, ao que o outro tinha para dizer. Tinham lidado juntos com as incompreensões quotidianas, os ódios instantâneos, as maldadezinhas recíprocas e os fabulosos relâmpagos de glória da cumplicidade conjugal. Foi a época em que se amaram melhor, sem pressas e sem excessos, e foram os dois mais conscientes e mais agradecidos pelas suas vitórias inverosímeis contra a adversidade. A vida ainda lhes depararia outras provas mortais, evidentemente, as já não importava: estavam na outra margem.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

a vida mundana

“A vida mundana, que lhe trazia tanta insegurança antes de a conhecer, não era mais que um sistema de pactos atávicos, de cerimónias banais, de palavras previstas, com o qual, em sociedade, se entretinham uns aos outros para não se assassinarem.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

o homem

“Só elas sabiam quanto pesava o homem que amavam com loucura e que talvez as amasse, mas que tinham tido que continuar a criar até ao último suspiro, dando-lhe de mamar, mudando-lhe as fraldas sujas, distraindo-o com historinhas de mãe para lhes aliviar o terror de sair de manhã e dar de cara com a realidade. E, no entanto, quando o viam sair de casa, instigado põe elas próprias a engolir o mundo, então eram elas que se ficavam com o terror de que o homem não voltasse nunca. Isso era a vida. O amor, se o houvesse, era uma coisa à parte: outra vida.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

terça-feira, março 04, 2008

virgindade

“Florentino Ariza tinha-a libertado da virgindade de um casamento convencional, que era mais pernicioso do que a virgindade congénita e do que a abstinência da viuvez. Tinha-lhe ensinado que nada do que se fizer na cama é imoral se contribuir para perpetuar o amor.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

a vida

“… os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as suas que as suas mães os dão à luz, mas a vida os obriga uma e outra vez ainda a parirem-se a si mesmos.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

a cidade

Eram assim: passavam a vida a proclamar o orgulho da sua origem, os méritos históricos da cidade, o preço das suas relíquias, o seu heroísmo e beleza, mas eram cegos ao caruncho dos anos. (…)
- Que nobre é esta cidade – dizia – que há quatrocentos anos que estamos a tentar dar cabo dela e ainda não conseguimos.”


Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

segunda-feira, março 03, 2008

a memória do coração

Era ainda demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as más recordações e exalta as boas e que, graças a esse artifício conseguimos suportar o passado.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

o pai

Subitamente revelou-se a fundo a imagem do homem a quem conhecera antes de qualquer outro, que o tinha criado e educado, que dormira e fornicara durante trinta e dois anos com a sua mãe e que, no entanto, nunca antes dessa carta se lhe tinha mostrado tal como era em corpo e alma, por timidez pura e simples.”


Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

olhar por cima do ombro

Mas no meio da desordem da saída, senti-o tão próximo, tão nítido naquela confusão, que uma força irresistível a obrigou a olhar por cima do ombro ao sair do tempo pela nave central e então viu, a dois palmos dos seus olhos, os outros olhos de gelo, o rosto pálido, os lábios petrificados pelo susto do amor.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

domingo, março 02, 2008

Carne para convento

"As duas irmãs, contra as suas graças naturais e a sua vocação festiva, eram carne para convento."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Um reino inclemente e mesquinho

"Lembrou-lhe que os fracos não entrariam jamais no reino do amor, que é um reino inclemente e mesquinho, e que as mulheres só se entregam a homens decididos porque esses lhe incutem a segurança tão ansiada para enfrentar a vida."


Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Gabriel García Márquez


Súplica

"Suplicou a Deus que lhe concedesse pelo menos um instante para que ele não se fosse sem saber o quanto ela o tinha amado, ultrapassando as dúvidas de ambos, e sentiu um ímpeto irresistível de começar a vida com ele outra vez desde o princípio para se dizerem tudo quanto lhes tinha ficado por dizer, e voltar a fazer bem qualquer coisa que tivessem feito mal no passado."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Quando a sabedoria chega...

"Outra coisa bem diferente teria sido a vida para eles, se tivessem sabido a tempo que era mais fácil ultrapassar as grandes catástrofes matrimoniais que as misérias minúsculas do dia-a-dia. Mas se alguma coisa tinham aprendido juntos era que a sabedoria chega quando já não nos serve para nada."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Amores lentos e difíceis

"Os seus amores eram lentos e difíceis, perturbados amiúde por presságios sinistros, e a vida parecia-lhes interminável."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Sucumbindo ao desespero

"Jeremiah de Saint-Amour amava a vida com uma paixão sem sentido, amava o mar e o amor, ia sucumbindo ao desespero, como se a sua morte não tivesse sido uma decisão sua mas um destino ineroxável."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"


Todo o medicamento era veneno

"Pensava que de um ponto de vista rigoroso todo o medicamento era veneno e que setenta por cento dos alimentos vulgares apressavam a morte."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"