segunda-feira, maio 29, 2006

MÁGOA SECRETA

Quem me vê a sorrir supõe provavelmente
Que palmilho, cantando a estrada da ventura.
Engano...Este meu riso é o manto transparente
Com que tento ocultar a dor que me tortura.

Existe dentro em mim uma dor inclemente,
Que há tempos me lançou no abismo da amargura
E qual ferida atroz, inexoravelmente,
Derrama no meu ser o fel da desventura.

Mas, na fronte estampada a máscara da calma,
Eu vou serenamente, os lances recalcando,
Desta mágoa sem fim, que mora na minh’alma.

E quando a dor cruel mais me compunge o peito,
Eu rio...E quem me ver sorrir fica pensando
Que sou muito feliz, que vivo satisfeito.


ARAÚJO, Nicodemos. Harmonia Interior. Acaraú: Gráfica do O Acaraú, 1935.

domingo, maio 28, 2006

Vida estúpida 2006

Sempre o mesmo esquema frio e estúpido e eu é que tenho a culpa. Nessa não volto a cair. A culpa realmente foi e é minha por ter acreditado num ser que não existia, numa bondade e sensibilidade que não passam de pura ficção. A culpa é realmente minha em continuar a dar ouvidos a uma pessoa que nem sequer devia ter direito de antena. Mas há um limite, santa paciência!
(...)
Pode ser considerado um anjo, um santo (a santidade é sempre discutível), mas não sou eu que o vou adorar. Fi-lo uma vez porque confiei em conceitos rudimentares de santidade, mas basta ser burra uma vez (eu fui várias ou durante muito tempo) para se perceber que não vale a pena. (=tempo perdido)

Janeiro de 2006

Desprezar uma pessoa a quem muito amei é sempre duro, terrivelmente difícil. Porquê as pessoas serem assim e não merecerem o meu afecto? Seria tudo mais fácil se as pessoas tivessem um bom coração, bons sentimentos e não apenas piedade. Assim como não gosto de ter este sentimento por alguém, muito menos suporto que sintam pena de mim e me queiram dar uma esmola de dúbia experiência.

Fevereiro 2006

Há acontecimentos e pessoas na vida que nos marcam de tal forma que sofremos as suas consequências ao longo da nossa existência. Quem não se sente marcado pela infância, por um desgosto de amor, pela traição de um amigo, pela morte de um ser querido, por um problema de saúde, pela humilhação de uma autoridade... Sim, estou só a falar dos negativos, mas os positivos também nos marcam e muito, são a nossa razão de viver e continuar a acreditar na felicidade, na repetição de momentos inesquecíveis.

Todos, mesmo todos, temos (ou tivemos) desgostos (não é de maneira nenhuma uma palavra forte). É impossível sofrer um desgosto em branco, sem que ele nos afecte. Nunca mais voltamos a ser os mesmos, por mais que queiramos o contrário. Ninguém tem culpa. É a lei da vida. Ninguém é perfeito. Mas não deixa de ser um preço muito alto: uma mudança que nos impele, normalmente, a olhar a vida de modo mais desconfiado. Porque as tristezas não acontecem só aos outros. Também crescemos. Sim, e se as pessoas nunca crescessem e fossem eternamente crianças? Um mundo de fantasia, de inocência, de autenticidade... Por que não?

Apesar de ter crescido ao longo da minha curta existência, sinto saudades de ser aquela criança ingénua, livre, para quem a vida era uma brincadeira, uma história de um conto-de-fadas, onde não havia pessoas menos boas.

Vida estúpida é acreditar nos disparates, nos atentados à inteligência e à bondade, e demorar imenso tempo a perceber que o desgosto ganha uma dimensão desmesurada se insistirmos em compreendê-lo, em modificá-lo, em não o aceitar como uma consequência das circunstâncias da vida. O caminho a seguir é sempre em frente, nunca para trás. Não ficar parada no tempo à espera que o impossível prove que não houve desgosto, que foi apenas imaginação minha. Os desgostos existem e por o serem não devem ser demasiado aprofundados.

Com isto espero encerrar mais um capítulo negativo da minha vida, até porque os positivos merecem ser festejados.

Maio 2006

Vida estúpida 2005

(...) Agora, meter-me em aventuras extraordinárias, onde tenho de arriscar tudo, onde tenho de me enfiar de cabeça… Não! Fiz isso uma vez. Não estou arrependida, mas não resultou! Aliás, é precisamente pelo seu fracasso que recuso uma aventura semelhante. Porque sei o que sofri, o que perdi, o que não fui capaz de fazer, os pedaços que arranquei do meu coração e da minha dignidade. Talvez por isso, hoje, quando olho para o Eduardo, não seja capaz de o perdoar totalmente, apesar de não guardar qualquer ressentimento nem de o condenar pelo que ele me fez. Mas, vejo naquele rosto dois anos de luta sofrida, de dor, de tristeza, de humilhação, tempo perdido na minha vida, que me deixou marcas para sempre.
(...)

Outubro 2005
Sandra Bastos

Vida estúpida 2004

2004 além de ter sido um ano pouco ou nada produtivo também foi pobre em divagações sobre disparates. Menos mal...

Mas os disparates, pelas suas próprias características, são um atentado à inteligência de qualquer ser humano minimamente inteligente. Talvez por isso o imperdoável do disparate não está em quem o diz ou em quem o faz mas em quem acredita nele.

Sandra Bastos

Vida estúpida 2003

De facto, sinto a falta de estar apaixonada, desse clímax que nos faz sonhar e sorrir para as estrelas. Há três anos que não sei como é essa sensação de amar alguém e lutar por um ser que julgava que me fizesse feliz. Hoje, mais longe dessa realidade, sei que não é propriamente o ser amado que cria essa bela sensação de estar apaixonada, talvez seja apenas o sonho que julgamos estar perto da realidade, talvez seja a esperança numa vida melhor, talvez seja uma terapia que nos faz esquecer as amarguras da vida. É disto que tenho saudades, não de me envolver com alguém, não das emboscadas para agradar o ser amado, não dos telefonemas, das idas ao cinema e das conversas à porta de casa sob a luminosidade da lua cheia. Essa esperança fazia-me viver, sentir a minha respiração, sonhar e gostar de mim mesma.
(...)
Durante três anos também vivi, mas de maneira diferente. As realizações profissionais alegraram-me mas nunca conseguiram preencher o vazio deixado pelo palerma do Eduardo. É mesmo palerma porque me pôs numa depressão e atreveu-se a pensar que eu o amava a sério, mas era a brincar, como sempre o foi. É, nunca amei ninguém a sério e nem sei se algum dia isso acontecerá. A brincadeira da paixão transforma a realidade e os sentimentos confundem-se, precipitam-se, tornam-se pouco claros. Foi isso que aconteceu com o Eduardo, além da minha preocupação com os traumas dele e com a sua terrível falta de afecto familiar. Não o conseguiria deixar sozinho, mergulhado numa solidão impiedosa, e, é estranho o que vou dizer, mas fiquei muito feliz quando ele encontrou a mulher da vida dele... libertei-me de uma paixão opressiva, depressiva e monótona. Como disse anteriormente, não era o Eduardo que me alegrava, pelo contrário, fazia-me sentir indisposta e inútil. O que me faz sentir saudades era a sensação de julgar amar, de ter ainda a réstia de esperança de encontrar no palerma do Eduardo vestígios do meu príncipe.
(...)
Claro que te agradeço teres me dado a oportunidade de conhecer melhor o Eduardo e de me certificar de que ele não era, de maneira nenhuma, o meu príncipe, de que tudo não passava de um engano da minha imaginação. E o trauma? Sabes que fiquei traumatizada, não sabes? Sabes que penso que da próxima vez vai ser igual, que vou sofrer da mesma forma, que vou ser gozada e que vou cair numa depressão ainda pior. Achas que só por ter um trauma de paixões é motivo suficiente para me deixares sozinha toda a vida? Achas que não sou capaz de superar esse trauma? Dá-me uma oportunidade! Quero vencer todos os traumas, todas as decepções, todo o vazio, toda a solidão.

Abril 2003

Depois pensei no Eduardo. Na falta que me faz amar alguém. Na falta que me faz sonhar com alguém. Que saudades tenho eu de amar alguém! O Eduardo nunca me amou mas foi positivo amá-lo. Aceitar a decepção de ele não ser o príncipe encantado e de ainda assim continuar a amá-lo, a amar um ser diferente do sonho, um ser com defeitos. Depois olhei para ti e imaginei-te como outro Eduardo. Tão bonito que ele é e por dentro como será? Tão atraente que ele é e a personalidade como será?
(...)
Pensar que estás à minha frente e eu te persigo cega, doente, obsessiva, como era com o Eduardo. Dá-me vómitos pensar nisso, numa vida assim.

Julho 2003
Sandra Bastos

Vida estúpida 2002

Palavras de uma solteirona chamada Alice (não sou eu):

Preciso de acreditar que na vida existem coisas mais importantes do que ser amada por um homem, uma amostra de um príncipe encantado, como tantos outros produtos que se vendem no supermercado.

Novamente a racionalidade da pedra, como sempre devia ter sido, e como para sempre deve ser. Há pessoas que nascem só para amar, outras só para ser amadas, outras para as duas coisas, outras para nada disso.

Quem é a próxima besta que me vai destruir mais uma vez? Quem é o idiota que me vai iludir, fazer perder tempo, verter uns quilos de lágrimas e esquecer a meretriz da racionalidade? Ser o virem, "matem-no"! Eu não o quero ver, não o quero conhecer e tenho raiva de quem o conhece! Não me fodam com essa merda de namoro.

2002 (ano pouco produtivo excepto a criação d'Os Seis)
Sandra Bastos

Vida estúpida 2001

Acho que depois de dois anos de completa clausura em que desci tão baixo ao ponto de deixar de ser eu própria, de perder o controlo total da situação, de me ter tornado num farrapo.

10 Março de 2001

Um pesadelo, Maria! Um pesadelo humano. Uma ferida enorme personificada num só homem, com h minúsculo. Não pode ser! E pensar eu estar esquecida de toda esta dor passada. Um passado demasiado recente. Ter pena. De quem? De mim? Uma pobre criatura que vacila, trémula, insegura, de coração palpitante. Um vazio profundo. Um buraco enorme. Novamente bloqueada. Aterrorizada. Como se estivesse a ver um fantasma. Talvez o fantasma dos meus medos, de todo o sofrimento que me vitimou. Personificado num ser, numa só pessoa. Talvez um ser sem maldade. Sem intenção de magoar. Mas magoou. E muito. Não me perguntes porquê. O passado é para esquecer. Pôr uma pedra em cima. Encerrar o assunto. Para sempre. Ou para impedir que o coração partido continue a sangrar. Porque o coração continua partido, despedaçado. Agora vazio, cada vez mais só. Aterroriza esta indiferença. Do coração despedaçado. Seco. A apodrecer. Um pesadelo de homem. Um fantasma. Estou aterrorizada. Deixa-me fugir.

12 Março 2001

Sandra Bastos

quinta-feira, maio 18, 2006

Ensaio sobre a Lucidez - José Saramago

Como sectária convicta da escrita de José Saramago incito-vos à leitura do Ensaio sobre a Lucidez. É um livro que se recomenda a quem já tenha lido outros livros de Saramago, como complemento à sua obra, valendo pela tentativa que Saramago fez, e qualquer tentativa literária de Saramago merece ser lida por aquilo a que o habitual leitor de Saramago aprendeu a respeitar da mestria de escrita deste invulgar escritor e do seu invulgar estilo de escrita. Contudo, a fim de preservar a merecida reputação de grande escritor de Saramago, não é o livro que aconselharia a alguém que nunca leu nada de Saramago. Sugiro que se comece por ler um dos seus romances «maiores». Cito, a título exemplificativo, três grandes obras que a crítica, por unanimidade, considera grandes romances. São eles O Ano da Morte de Ricardo Reis, Memorial do Convento e Ensaio sobre a Cegueira. Sem margem para dúvidas, o Ensaio sobre a Cegueira é a minha obra predilecta e quase me atrevo a sugerir-vos a sua leitura.

sábado, maio 13, 2006

Noite de Inverno

Olhos pesados e cansados. Mas a música. O som que mexe cá dentro, altera o nosso psicológico. Ajuda-nos a definir, a expressar o que sentimos, sem palavras, sem sabermos sequer o que realmente estamos a sentir e queremos transmitir.

O silêncio suscita-me pavor. Medo do silêncio da noite. Medo de ouvir unicamente o silêncio. Ainda bem que a água que corre na fonte faz barulho suficiente para espantar o silêncio absoluto da noite, hoje de lua cheia.

Um leve arrepio, de emoção ou de frio. Na frieza do meu olhar, um simples sorriso, algo forçado ou apenas triste. Nada mais a dizer, nesta noite de Inverno. Lua cheia. Pega-me na mão, aperta-a levemente, dança comigo, a noite toda, até ao nascer do sol. Deixa-me sentir contigo o ritmo da música, o som agradável que ecoa nos meus ouvidos. Agarra-me. Aperta-me contra ti. Beija-me mas não te apresses. Temos a noite toda, para dançar. Mas sou mulher. E tu és... Diz-me que me amas. Que me queres. Como eu te quero. Que farias tudo por mim, e eu por ti.

Ser eu uma bela adormecida. Perdida estou eu. Doente como sempre. Terrivelmente cansada. Olhos entreabertos. Movida por um impulso de não sei quê. Não parar. Ouvir este som. Não me deixar vencer pelo fracasso do meu corpo. Pela fraqueza do organismo. Ser a minha alma ainda mais forte do que as deficiências do sistema. Não te amar eu tanto ou tão pouco. Na inutilidade de mim. Perder-me na solidão, na frustração do querer ser e nada ser. Perder o controlo da minha pequenez nesta estúpida realidade.

Sandra Bastos, Março de 2001

sexta-feira, maio 12, 2006

A minha luta romântica

Quanto mais vivo mais acho a vida um poço de contradições. Às vezes tudo corre bem e irradiamos confiança e felicidade, todos os obstáculos nos parecem ultrapassáveis. Todavia, quando, por algum motivo, a vida nos prega uma partida, tudo se desmorona, perdemos a confiança e toda a força para continuarmos a lutar.

Os traumas, os desgostos e os fracassos marcaram-me imenso, não obstante reconhecer que já fiz muita coisa boa na vida, que realizei muitos sonhos e que tive momentos realmente felizes!

É difícil admitir que a necessidade de escrever é muito maior quando estou em baixo, chegando a ser mesmo incontrolável, mais forte do que eu! E nada melhor do que o Adagietto de Mahler para me inspirar ainda mais ou apenas ajudar a desabafar.

Qualquer coisa me pode inspirar. Normalmente o que me inspira são as pessoas, os sentimentos que elas provocam, pequenas frases e muita música! Não tem de haver necessariamente um homem a mover toda a inspiração, mas confesso que estar apaixonada ou atraída por alguém ajuda muito, intensifica o processo da escrita. Não estou apaixonada, porque não conheço suficientemente nenhum homem para isso, apesar da atracção intensa pelo …. Porém esta atracção é para calcar, aniquilar, destruir completamente. Não me vou apaixonar nem nada do género, apenas para me abrilhantar os olhos e o sorriso, nada mais e talvez já seja um exagero.

(...) posso concluir que a minha missão é lutar pelos meus ideais românticos: pelo verdadeiro amor, onde acima de tudo estão os sentimentos mais nobres, mesmo acima dos problemas materialistas; depois pela igualdade e pela liberdade, contra a violência, guerra, ódio, preconceitos sociais, mentalidades fascistas e claro, contra o machismo! Lutarei sempre pelos direitos das mulheres, pela igualdade em relação aos homens, não obstante admitir que o machismo é apoiado por muitas mulheres. Elas são as primeiras a aplaudir o machismo. Infelizmente.

E não me venham dizer que não vale a pena lutar. Se nenhuma mulher tivesse lutado hoje ainda era obrigada a ser apenas um objecto sexual ou dona-de-casa e nem teria direito a votar e a participar na vida pública. Mas esta luta ainda agora começou porque ainda há muitas batalhas a travar. É esta a minha missão: denunciar as injustiças e lutar pelos meus ideais, por um mundo melhor, onde o amor é o bem mais valioso!

E é assim a vida, como diz o povo, uns dias melhores outros piores, vai-se andando!

Sandra Bastos, 2005

terça-feira, maio 09, 2006

Os últimos pedaços de um sonho

"...como se ambos caminhássemos na direcção um do outro tentando agarrar os pedaços de sonho que se desfazem com as amarguras da vida. Agarro um dos últimos pedaços, mas é tão frágil que se o agarro com força desaparece como o papel molhado. Solto um grito de desespero!

Não é ele porque ele não me procura, porque se ele não me encontra é porque busca outra princesa, é porque caminha noutra direcção. E depois... aqui fico eu mergulhada no desespero de perder de vista um príncipe cheio de encantos, de olhar singelo e falar doce, de semblante simpático e sorriso genuíno, com um rosto tão expressivo, tão perto e tão longe...

E evapore-se o cheiro da paixão, numa noite de Primavera, onde a escuridão apagou os últimos compassos e deixou cair num olhar triste a esperança de um sonho. E seguem-se dias de nostalgia pela perda do nada, pela chegada de mais uma dor que pesa no vazio, sempre em crescimento, pela carência de um ser frágil e taciturno." (2003)

"Deixo-te aí, onde estás, belo e atraente, no teu canto, com as tuas mulheres, feliz, quem sabe, e muito melhor sem mim, sem convites para sair, sem telefonemas estúpidos, sem momentos de silêncio forçado, sem a dor de não ser correspondida.

Recuso-te porque recuso todo o sofrimento. Recuso-te porque quero preservar a nossa amizade, porque é mais importante para mim. Para ti desejo uma mulher fantástica, que lute pelo teu amor, que te faça feliz e que te dê o que eu um dia sonhei poder dar. Quando deixei de te olhar, o público batia palmas. Acabava o I Acto e eu, segurando uma linda rosa branca na mão, pensava no amor de Floria Tosca e nos meus desamores." (2003)

Sandra Bastos

Carta de Beethoven à Amada Imortal

Para a Amada Imortal

Manhã de 6 de Julho

"Meu anjo, meu tudo, meu próprio ser – Hoje apenas algumas palavras a caneta (a tua caneta).

Só amanhã os meus alugueres estarão definidos – que desperdício de tempo....... por que sinto essa tristeza profunda se é a necessidade quem manda? Pode o teu amor resistir a todo sacrifício embora não exijamos tudo um do outro? Podes tu mudar o facto de que és completamente minha e eu completamente teu? Oh Deus! Olha para as belezas da natureza e conforta o teu coração. O amor exige tudo, assim sou como tu, e tu és comigo. Mas esqueces-te tão facilmente que eu vivo por ti e por mim. Se estivéssemos completamente unidos, tu sentirias essa dor assim como eu a sinto.

O meu dia foi terrível: ontem só cheguei aqui às 4 horas da manhã. Com a falta de cavalos, o cocheiro do correio escolheu um novo caminho, mas que terrível caminho, na penúltima paragem eu fui avisado para não viajar à noite, fiquei com medo da floresta, mas isso só me deixou mais ansioso - e eu estava errado. O cocheiro precisou parar na infeliz estrada, uma imprestável e barrenta estrada. Se eu estivesse sem todas as coisas que trago comigo teria ficado preso na estrada. Esterhazy, viajando pela estrada, teve o mesmo problema com oito cavalos que eu tive com quatro - sinto prazer com isso, como sempre sinto quando supero com sucesso as dificuldades.

Agora uma rápida mudança das coisas externas para as internas. Nós provavelmente devemos nos ver em breve, entretanto, hoje eu não posso dividir contigo os pensamentos que tive nos últimos dias sobre minha própria vida – Se os nossos corações estivessem sempre juntos, eu não teria nenhum.... O meu coração está cheio de coisas que eu gostaria de te dizer – ah – há momentos em que sinto que esse discurso é tão vazio – Alegra-te – Lembra-te da minha verdade, o meu único tesouro, o meu tudo como eu sou o teu. Os deuses devem-nos mandar paz... Teu fiel Ludwig

Segunda de tarde, 6 de Julho

Tu estás a sofrer minha criatura adorada – só agora percebi que as cartas deveriam ser enviadas nas segundas ou quintas de manhã cedo - os únicos dias nos quais o correio vai daqui para K. – Tu estás a sofrer – Ah, não importa onde eu esteja porque tu estás comigo – Vou arrumar tudo para que possamos viver juntos..... e que vida teremos!!! Assim!!!

Sem ti... perseguido pela bondade de algumas pessoas, que não quero receber porque não as mereço. Dói-me a humildade do homem diante do homem. E quando me acho em sintonia com o Universo, o que sou e quem é aquele a quem chamam o Todo Poderoso? E sem dúvida... aí então aparece de novo o divino do homem.

Choro ao pensar que provavelmente não receberás a minha primeira carta antes de sábado. Tanto como tu me amas, muito mais te amo!... Boa noite! Devo ir dormir. Oh, Deus! Tão perto! Tão longe! Não é o nosso amor uma verdadeira morada do céu? E tão sólido como as muralhas do céu?!

7 de Julho

Bom dia! Todavia, na cama se multiplicam os meus pensamentos em ti, minha amada imortal; tão alegres como tristes, esperando ver se o destino quer ouvir-nos. Viver sozinho é-me possível, ou inteiramente contigo, ou completamente sem ti. Quero ir bem longe até que possa voar para os teus braços e sentir-me num lugar que seja só nosso, podendo enviar a minha alma ao reino dos espíritos envolta contigo. Tu concordarás comigo, tanto mais que conheces a minha fidelidade, e que nunca nenhuma outra possuirá meu coração; nunca, nunca... Oh, Deus! Por que viver separados, quando se ama assim?

Minha vida, o mesmo aqui que em Viena: sentindo-me só, angustiado. Tu, amor, tens-me feito ao mesmo tempo o ser mais feliz e o mais infeliz. Há muito tempo que preciso de uma certeza na minha vida. Não seria uma definição quanto ao nosso relacionamento?... Anjo, acabo de saber que o correio sai todos os dias. E isso me faz pensar que tu receberás a carta em seguida.

Fica tranquila. Contemplando com confiança a nossa vida alcançaremos o nosso objectivo de vivermos juntos. Fica tranquila, queiras-me. Hoje e sempre, quanta ansiedade e quantas lágrimas pensando em ti... em ti... em ti, minha vida... meu tudo! Adeus... queiras-me sempre! Não duvides jamais do fiel coração de teu enamorado Ludwig. Eternamente teu, eternamente minha, eternamente nossos."

Beethoven

terça-feira, maio 02, 2006

Eco ou Vida?

Eco ou Vida?

Um filho e seu pai caminhavam pelas montanhas. De repente, o filho cai, magoa-se e grita:
- Aaai!!!
Surpreendido escuta a repetição da voz, num lugar da montanha:
- Aaai!!!
Curioso, pergunta:
- Quem é?
Recebe como resposta:
- Quem é?
Contrariado, grita:
- Seu cobarde!!!
Escuta como resposta:
- Seu cobarde!!
Olha para o pai e pergunta aflito:
- O que é isso?
O pai sorri e diz:
- Meu filho presta atenção. Então o pai grita em direcção à montanha:
- Eu admiro-o!
A voz responde:
- Eu admiro-o!
De novo o homem grita:
- És um campeão!
A voz responde:
- És um campeão!
O menino fica espantado, não entende. Então o pai explica-lhe:
- As pessoas chamam-lhe ECO, mas, na verdade, isso é a VIDA. Ela devolve tudo o que tu dizes ou fazes. A nossa vida é simplesmente o reflexo das nossas atitudes. Se queres mais amor no mundo, cria mais amor no teu coração. Se queres mais competência do teu grupo, desenvolve a tua competência. O mundo é somente a prova da nossa capacidade. Tanto no plano pessoal como no profissional, a vida devolve-te o que lhe deste.

A TUA VIDA NÃO É UMA COINCIDÊNCIA, É CONSEQUÊNCIA DOS TEUS ACTOS !