sábado, maio 13, 2006

Noite de Inverno

Olhos pesados e cansados. Mas a música. O som que mexe cá dentro, altera o nosso psicológico. Ajuda-nos a definir, a expressar o que sentimos, sem palavras, sem sabermos sequer o que realmente estamos a sentir e queremos transmitir.

O silêncio suscita-me pavor. Medo do silêncio da noite. Medo de ouvir unicamente o silêncio. Ainda bem que a água que corre na fonte faz barulho suficiente para espantar o silêncio absoluto da noite, hoje de lua cheia.

Um leve arrepio, de emoção ou de frio. Na frieza do meu olhar, um simples sorriso, algo forçado ou apenas triste. Nada mais a dizer, nesta noite de Inverno. Lua cheia. Pega-me na mão, aperta-a levemente, dança comigo, a noite toda, até ao nascer do sol. Deixa-me sentir contigo o ritmo da música, o som agradável que ecoa nos meus ouvidos. Agarra-me. Aperta-me contra ti. Beija-me mas não te apresses. Temos a noite toda, para dançar. Mas sou mulher. E tu és... Diz-me que me amas. Que me queres. Como eu te quero. Que farias tudo por mim, e eu por ti.

Ser eu uma bela adormecida. Perdida estou eu. Doente como sempre. Terrivelmente cansada. Olhos entreabertos. Movida por um impulso de não sei quê. Não parar. Ouvir este som. Não me deixar vencer pelo fracasso do meu corpo. Pela fraqueza do organismo. Ser a minha alma ainda mais forte do que as deficiências do sistema. Não te amar eu tanto ou tão pouco. Na inutilidade de mim. Perder-me na solidão, na frustração do querer ser e nada ser. Perder o controlo da minha pequenez nesta estúpida realidade.

Sandra Bastos, Março de 2001

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