quinta-feira, março 30, 2006

ARMADILHAS DO CORAÇÃO
Você bem que me avisou.Alertou-me do perigo,Da aventura,Da loucura!Eu, teimosa, fui...!Saltei do precipício,Voei por muitos ares,E quando vi,Estava perdida.Passando por caminhos desconhecidos do seu corpo,Seguindo rastros de suas mãos,Correndo com as pistas dos seus beijos,Sugando as gotas da paixão.Eu, teimosa, fui...!Saltei do precipício,E caí nas armadilhas do coração.Hoje, nesse vai e vem,Você me enreda,Envenena-me,Condena-me a querer a prisão dos seus beijos,Os limites do seu corpo.Ah...Eu, teimosa, fui...!Conheci você.E admito:Você é meu precipício,Meu oficio,Meu vício!...O que é uma pena!Você não me merece,Não vale a pena...!Não vale a pena...!Não merece a minha dor,Minhas saudades,Nem repetições de cenas do nosso “amor”. Você bem que me avisou.E eu, teimosa, fui...!Caí nas armadilhas do coração,Mas você não vale a pena...!Não vale nem as linhas desse poema.Eu, teimosa, fui...!E admito:Você é meu precipício,Meu oficio,Meu vício!...Mas não vale a pena...!Você não vale a pena...!
DANA SANTOS(10/12/03)

terça-feira, março 28, 2006

"Se eu tivesse morrido..."

"- Não deixes que a tua bondade defenda o que a tua razão deve censurar. A minha doença faz-me pensar... Deu-me tempo e calma para uma reflexão séria. Muito antes de ter recuperado o suficiente para falar, estava perfeitamente capaz de reflectir. Considerei o passado; vi apenas no meu comportamento, desde que nos conhecemos, no Outono passado, uma série de imprudências contra mim e falta de bondade para com os outros. Vi que foram os meus próprios sentimentos que prepararam os meus sofrimentos e a minha falta de forças quase me levou à cova. Sei muito bem que a minha doença foi totalmente provocada por mim mesma e pela minha negligência para com a minha saúde, que, mesmo nessa altura, sentia estar errada. Se eu tivesse morrido... admiro-me com a força do meu desejo de viver; para ter tempo de obter perdão do meu Deus e vós todas, não me matei logo. Se eu tivesse morrido... que grande tristeza te deixaria, minha enfermeira, minha amiga, minha irmã!..."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Festa Musical


"Os acontecimentos do serão não foram muito notáveis. A festa, como qualquer outra festa musical, reunia muitas pessoas que tinham verdadeiro interesse pela execução e muitas mais que não tinham nenhuma espécie de interesse por ela; os próprios executantes estavam, como de costume, convencidos, assim como os seus maiores amigos, de serem os melhores executantes amadores de toda a Inglaterra."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

"Pormenorizada observação e geral curiosidade"













"Nada escapava à sua pormenorizada observação e geral curiosidade; via tudo e perguntava tudo: nunca descansava até saber o preço de todos os componentes do vestuário de Marianne, e podia dizer mais correctamente o número total das suas roupas do que a própria Marianne, nunca desesperava de descobrir, antes de elas partirem, quanto gastavam na lavandaria por semana e quanto gastavam com ela em cada ano. Além disso, a impertinência deste tipo de inquéritos terminava com um cumprimento, que, apesar de querer ser simpático, era considerado por Marianne como a maior impertinência de todas, porque depois de fazer um exame ao valor e feitio do seu vestuário, à cor dos seus sapatos e ao arranjo do seu cabelo, tinha quase a certeza de que lhe iria dizer que «jurava que estava muito elegante, e que apostava que iria fazer muitas conquistas»."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

domingo, março 26, 2006

Sarcástica

"Eram sensatas de mais para serem companhias desejáveis para a primeira e pelas segundas eram olhadas de modo invejoso, como intrusas no seu campo, compartilhando a amabilidade que elas queriam monopolizar. Apesar de nada ser mais correcto de que o comportamento de Lady Middleton para com Elinor e Marianne, ela não gostava mesmo nada delas. E porque elas não a elogiavam, a ela aos seus filhos, não acreditava que tivessem bom coração; porque gostavam de ler, considerava-as sarcásticas; talvez sem saber muito bem o que era ser sarcástica, mas isso não queria dizer nada. Era uma censura muito usada, que se fazia por tudo e por nada."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Falta... falta... falta de tudo!

"John Dashwood não tinha muito que dizer que valesse a pena ser ouvido e sua mulher muito menos. Mas havia problemas acerca disso, pois dava-se o mesmo caso com a maior parte dos seus convidados; quase todos possuíam estes defeitos, para serem agradáveis - falta de sensatez, tanto natural como adquirida, falta de elegância, falta de espírito e falta de carácter."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

sexta-feira, março 24, 2006

Dieta da alegria

Não guarde mágoas.
Guarde lembranças.
Não chore lembranças.
Recorde alegria.
Não viva do passado.
Aproveite o presente.
Não fuja do agora.
Prepare o amanhã.

Você pode, e deve, escolher o roteiro da sua vida.
Apague o que já passou e não retorna mais.
Refaça seu acervo de lembranças.
As más, relegue ao esquecimento.
Às boas dê ainda mais brilho.
Faça a dieta da alegria:
Um sorriso a cada manhã;
Um agradecimento ao final do dia.
:o)

quinta-feira, março 23, 2006

BALADA DA NEVE

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil

quarta-feira, março 22, 2006

Dez réis de esperança

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

António Gedeão

terça-feira, março 21, 2006

A Falsa Emancipação da Mulher

"Actualmente, tem-se a pretensão de que a mulher é respeitada. Uns cedem-lhe o lugar, apanham-lhe o lenço: outros reconhecem-lhe o direito de exercer todas as funções, de tomar parte na administração, etc.; mas a opinião que têm dela é sempre a mesma - um instrumento de prazer. E ela sabe-o. Isso em nada difere da escravatura. A escravatura mais não é do que a exploração por uns do trabalho forçado da maioria.

Assim, para que deixe de haver escravatura é necessário que os homens cessem de desejar usufruir o trabalho forçado de outrem e considerem semelhante coisa como um pecado ou vergonha. Entretanto, eles suprimem a forma exterior da escravatura, depois imaginam, persuadem-se de que a escravatura está abolida mas não vêem, não querem ver que ela continua a existir porque as pessoas procedem sempre de maneira idêntica e consideram bom e equitativo aproveitar o trabalho alheio. E desde que isso é julgado bom, torna-se inveitável que apareçam homens mais fortes ou mais astutos dispostos a passar à acção.

A escravatura da mulher reside unicamente no facto de os homens desejarem e julgarem bom utilizá-la como instrumento de prazer. Hoje em dia, emancipam-na ou concedem-lhe todos os direitos iguais aos do homem, mas continua-se a considerá-la como um instrumento de prazer, a educá-la nesse sentido desde a infância e por meio da opinião pública. Por isso ela continua uma escrava, humilhada, pervertida, e o homem mantém-se um corruptor possuidor de escravos."

Leon Tolstoi, in 'Sonata a Kreutzer'

A Experiência do Homem

"Todo o homem é culpado do bem que não fez."

"Existirá alguém tão esperto que aprenda pela experiência dos outros?"


Voltaire
[1694-1778]
Filósofo/Escritor

Conhecimento

"Só sabemos com exactidão quando sabemos pouco; à medida que vamos adquirindo conhecimentos, instala-se a dúvida."

"Nada mais assustador que a ignorância em acção."

"Nem todos os caminhos são para todos os caminhantes."

Goethe
[1749-1832]
Escritor

Amor

"É fácil amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado."

"A falta de amor é a maior de todas as pobrezas"

Madre Teresa de Calcutá
[1910-1997]
Freira

A verdade

"O melhor de uma verdade é o que dela nunca se chega a saber"

Vergílio Ferreira
[1916-1996]

Escritor, em "Escrever"

A vida

A vida

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo <>,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!

Florbela Espanca

segunda-feira, março 20, 2006

O Clube dos Poetas Mortos

"O "Clube dos Poetas Mortos" convida-nos a resgatar emoções tantas vezes caladas em nome do progresso e de uma ordem social instituída.
Do passado ressoam vozes que nos devolvem o perfume e o sabor das sensações inocentes e genuínas de que a vida nos alheou e que não fomos capazes de reencontrar nos horizontes da memória.


É que a vida só faz sentido quando- como nos ensina Thoreau -, lhe soubermos "sugar o tutano", ou seja, quando a fruirmos na sua verdadeira essência. Foi por isso que Thoreau abandonou o Progresso e a Civilização e se refugiou na floresta, perto de Walden Pond, tomando como interlocutora privilegiada a própria Natureza. É por isso que Keating sugere aos seus alunos que quebrem as grilhetas que os acorrentam a uma existência sensaborona e deixem transbordar as emoções que vivem em si. Para isso, importa que saibam acolher o chamamento e os ensinamentos daqueles que melhor souberam celebrar a vida: os poetas, em cuja Arte resplandecem as afeições da Humanidade.

Efectivamente, da frase bíblica" nem só de pão vive o Homem", aplicada ao presente contexto, talvez decorra que "nem só de conhecimentos científicos vive o Homem ", já que, como revela Keating "man writes Poetry not because it is cute, but because he is part of the Human Race."

Keating, não obstante o ensino tradicionalista que lhe foi ministrado (na mesma escola aonde, anos mais tarde, viria a ser professor), sempre soube corresponder aos ideais estéticos dos clássicos, como dos românticos, de Shakespeare como de Whitman, sem nunca pactuar com uma visão tecnicista da Literatura, que a reduz a um fenómeno mensurável e quantificável.

Também os seus alunos, depois de terem colhido os ensinamentos do mestre, se predispõem a experimentar a filosofia do carpe diem . Assim , as reuniões dos jovens na floresta (na senda de Thoreau e do próprio Keating) permitem-lhes saborear os aromas e paladares da vida, consubstanciados nas palavras dos poetas do passado. Destas reuniões, os jovens regressam mais solidários e fortalecidos, mais confiantes e autónomos, mais livres e amadurecidos.

Depois do encontro com os grandes mestres da Literatura, os alunos de Keating recusam-se a ser objecto da vontade dos adultos, e atrevem-se a delinear os seus próprios objectivos e percursos existenciais.

Lamentavelmente, uma Revolução nunca se faz sem que algumas vidas humanas sejam sacrificadas. A vítima desta Revolução foi Neil, o jovem que voluntariamente se recusou a hipotecar a sua alma de artista a uma carreira médica (provavelmente muito bem remunerada).

A administração da escola apressa-se a encontrar um culpado para a morte de Neil. Recusando auto - penalizar - se por ter, ano após ano, coarctado a liberdade dos seus alunos, convertendo-os, assim, em rebeldes potenciais, o director escolhe um alvo mais vulnerável: Keating, que acusa de ter incutido em Neil o desejo de se insurgir contra as determinações do pai.

A expulsão de Keating não consegue deter a marcha da renovação; os ideais e lições de Keating encontraram guarida nos corações dos seus discípulos, plasmando-se claramente no comportamento destes, no final da história.

Por outras palavras, "aniquilou-se" o "capitão", mas permanecem as suas hostes. Já acontecera com Lincoln, o homenageado do poema de Whitman que abre com o vocativo "Oh, Captain, my captain". Como tinha assegurado o próprio Keating, não há nada que se possa opor ao curso da liberdade: "it was always thus, and always thus will be ". "

Ana Maria Marques da Costa Pereira Lopes, em IPV
Professora Adjunta da Área Científica de Inglês da ESEV



"Chocolate" - Joanne Harris

"Vianne Rocher é uma jovem mãe solteira, que vai viver com a sua filha Anouk para a aldeia de Lansquenet-sur-Tannes. Vianne resolve montar um negócio pouco comum naquele local, uma chocolataria com o nome de “La Céleste Praline”.

Todos os habitantes acham que este esta nova loja e a própria Vianne são um sopro de ar fresco frente à tirania de Francis Reynaud, um padre muito austero, que acha este comércio muito sofisticado e tentador, e a sua proprietária um desafio para a autoridade. Mas Vianne, perante esta situação, só poderá apelar à alegria de viver do povo de Lansquenet.

Chocolate é um repertório de sabores, descritos de uma maneira tão viva que quase se sentem; é também uma galeria de personagens ternos e cruéis, amáveis e odisos, sempre intensos e credíveis. Mas é sobretudo um romance tão ameno, tão rico e variado, que deixará nos seus leitores uma impressão imorredoira."

Bertrand Livreiros

Filosofia de vida

"Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se"

Gabriel Garcia Marques

domingo, março 19, 2006

"Uma Mente Brilhante"

" "Uma Mente Brilhante", baseia-se na biografia de John Nash escrita por Sylvia Nasar, e começa com a chegada do jovem Nash à Universidade de Princenton, em 1947. Isolado de todos e tudo, Nash recusa-se a participar nas actividades básicas da Universidade, tais como assistir às aulas, conviver com os colegas, etc. O seu objectivo é a procura de uma "Ideia original".

Incentivado pelo colega Charles a procurar a sua ideia original" fora das quatro paredes do seu quarto, Nash inspira-se em fontes estranhas, como o movimento dos pombos no parque, os movimentos de uma equipa de futebol e até do roubo de uma carteira. Nenhum destes três estudos o ajuda. Será numa conversa de bar que Nash encontra inspiração para a sua "Ideia Original", uma teoria revolucionária com aplicação à economia moderna e que contradizia 150 anos do reinado de Adam Smith na área.

O reconhecimento pelo seu trabalho acontece em 1953, após ter Nash realizado alguns trabalhos no Pentágono a decifrar códigos russos. Ao mesmo tempo, Nash é Professor. Conhece uma aluna, Alicia, com a qual viria a casar e ter um filho. Tudo parecia correr bem com o casal, até que Nash começa a ser perseguido por desconhecidos. Nash não resiste à grande pressão e começa a ficar paranóico.

O resto do filme segue uma trajectória repleta de desafios, onde Nash luta, não só contra a esquizofrenia, mas também contra todos aqueles que não acreditavam na sua recuperação. O filme termina o reconhecimento pelo qual Nash tanto ansiava: o Prémio Nobel de Economia em 1994, pelo seu contributo na Teoria dos Jogos."

Olga Pombo, em Departamento de Educação FCUL

"Orgulho e Preconceito" pela BBC

"Orgulho e Preconceito é um dos mais populares romances da língua inglesa. Escrito na linguagem espirituosa e irónica que caracteriza a sua autora, Jane Austen, foi brilhantemente transformado na série da BBC produzida por Sue Birtwistle com argumento adaptado por Andrew Davies. Com Colin Firth como Mr. Darcy e Jennifer Ehle como Elizabeth Bennet, esta versão de 1995 é a adaptação de um clássico da literatura para a TV mais bem sucedida de todos os tempos, mantendo-se fiel ao original de Jane Austen."

"Como Jane Austen pode mudar sua vida"

"Alain de Botton escreveu um livro sobre Proust para mudar todas as vidas. Bom negócio. Nos últimos tempos, tenho pensado em Jane Austen para mudar a minha. Corrijo. Tenho pensado em mim, no meu bolso e nas histórias de Miss Jane para mudar as vossas. Assim é que é.

Acontece quando um amigo (melhor: uma amiga) entra aqui em casa com lágrimas nos olhos. Problemas sentimentais, por favor, não façam caso. Fatalmente, tenho sempre dois objectos sobre a mesa: uma caixa de lenços de papel e, claro, uma cópia de "Orgulho e Preconceito", o livro que Jane Austen publicou em 1813. Entrego o livro e, com palavras paternais, aconselho: Lê "Orgulho e Preconceito" e encontrarás a luz, meu amor.Eles lêem e depois regressam, com a alma levantada, mais felizes que Mr. Scrooge ao descobrir que está vivo e é Natal. Inevitável.

Jane Austen entendia mais sobre a natureza humana do que quilos e quilos de tratados filosóficos sobre a matéria.Mas, primeiro, as apresentações: leitores, essa é Jane Austen, donzela inocente que nasceu virgem e morreu virgem. Jane, esses são os leitores (ligeira vénia). A biografia não oferece aventuras. Poderíamos acrescentar que morou com a família até ao fim. Que publicou os seus romances anonimamente, porque não era de bom tom uma mulher se entregar aos prazeres da literatura. E que suas obras, apesar de sucesso moderado, têm conhecido nos últimos anos um sucesso estrondoso e as mais díspares interpretações políticas, literárias, filosóficas, até econômicas.

Já li textos sobre a importância das finanças na obra de Jane Austen. Sobre o vestuário. Sobre a decoração de interiores. Sobre os usos da ironia no discurso directo. Para não falar de filmes - mais de vinte - que os seus livros --apenas seis-- suscitaram nos últimos tempos. O último "Orgulho e Preconceito" foi recentemente filmado no Reino Unido, com Keira Knightley (suspiros, suspiros) no papel principal. Vai aos Globos de Ouro. Provavelmente, aos Oscars também.

A loucura é total. Jane Austen mal sabia que, depois da morte, em 1817, o mundo acabaria por descobri-la e, sem maldade, usá-la e abusá-la tão completamente. Justo. Considero Jane Austen uma das maiores escritoras de sempre. Incluo os machos na corrida. Sem Austen, seria impensável encontrar Saki, Beerbohm ou Wodehouse. Miss Jane é mãe de todos.

E "Orgulho e Preconceito"? "Orgulho e Preconceito" tem eficácia garantida para males de amor. Vocês conhecem a história: Elizabeth, filha dos Bennet, classe média com riqueza nos negócios (quel horreur!), conhece Darcy, aristocrata pedante. Ela não gosta da soberba dele. Ele começa por desprezar a condição dela --social, física-- no primeiro baile onde se encontram. Com o tempo, tudo se altera. Darcy apaixona-se por Elizabeth. Elizabeth resiste, alimentada ainda pelas primeiras impressões sobre Darcy. Darcy declara-se a Elizabeth, sem baixar a guarda do preconceito social. Elizabeth não perdoa o preconceito de Darcy e, ferida no orgulho, recusa os avanços. Darcy vai ao "Faustão". Não, invento. Darcy lambe as feridas e afasta-se. Mas tudo está bem quando termina bem: Darcy e Elizabeth, depois das primeiras tempestades, estão condenados ao amor conjugal. Aplausos. The end.

As consciências feministas, ou progressistas, sempre amaram a atitude de Elizabeth: nariz alto, opiniões fortes, capaz de vergar Darcy e o seu preconceito aristocrático. Elizabeth seria uma espécie de Julia Roberts em "Pretty Woman", capaz de conquistar, com seu charme proletário, um Richard Gere que fede a presunção. "Orgulho e Preconceito" seria, neste sentido, um livro anticonservador por excelência, ao contrário de "Sensibilidade e Bom Senso", onde a hierarquia social tem a palavra decisiva.

Elizabeth não é boneca de luxo, disposta a suportar os mandos e desmandos do macho. Ela exige respeito. Pior: numa família com dificuldades financeiras, Elizabeth comete o supremo ultraje --impensável no seu tempo-- de recusar propostas de casamento que salvariam a sua condição e a conta bancária de toda a família. A mãe de Elizabeth, deliciosamente histérica, atravessa o romance com achaques nervosos, prostrada no sofá. Se "Orgulho e Preconceito" fosse um romance pós-moderno, a pobre mãezinha passaria metade do tempo suspirando: Esta filha vagabunda vai levar a família toda para a sarjeta!Elizabeth não cede e triunfa. A família também.

E os leitores progressistas? Esses, não. Os leitores progressistas tendem a ler "Orgulho e Preconceito" como se existissem na trama duas personagens distintas, vindas de mundos distintos, com vícios e virtudes também distintos. Darcy contra Elizabeth, até ao dia em que o amor é mais forte. Erro. Jane Austen não era roteirista em Hollywood. E os leitores progressistas saberiam desse erro se soubessem também que o título original de "Orgulho e Preconceito" não era "Orgulho e Preconceito". Era, tão simplesmente, "Primeiras Impressões". Nem mais. Se existe um tema central no romance, não é Elizabeth, não é Darcy. E não é, escuso de dizer, o dinheiro, a ironia dos diálogos ou a decoração de interiores.

"Orgulho e Preconceito" é uma meditação brilhante sobre a forma como as primeiras impressões, as idéias apressadas que construímos sobre os outros, acabam, muitas vezes, por destruir as relações humanas. De igual forma, "Orgulho e Preconceito" não é, como centenas e centenas de histórias analfabetas, uma história de amor à primeira vista. É, como escreveu Marilyn Butler, professora em Cambridge e a mais importante crítica de Austen, uma história de ódio à primeira vista. E a lição, a lição final, é que amor à primeira vista ou ódio à primeira vista são uma e a mesma coisa: formas preguiçosas de classificar os outros e de nos enganarmos a nós.

Elizabeth despreza a arrogância de Darcy sem perceber que essa arrogância, às vezes, é uma forma de defesa: o amor assusta mais do que todos os fantasmas que habitam o coração humano. Darcy despreza Elizabeth porque Elizabeth é uma ameaça ao seu conforto social e até sentimental. Elizabeth e Darcy não são personagens distintos. Eles são, no seu orgulho e preconceito, personagens rigorosamente iguais.

Jane Austen acertou. Duplamente. Como literatura e como aviso. O amor não sobrevive aos ritmos da nossa modernidade. O amor exige tempo e conhecimento. Exige, no fundo, o tempo e o conhecimento que a vida moderna de hoje não permite e, mais, não tolera: se podemos satisfazer todas as nossas necessidades materiais com uma ida ao shopping do bairro, exigimos dos outros igual eficácia.

Os seres humanos são apenas produtos que usamos (ou recusamos) de acordo com as mais básicas conveniências. Procuramos continuamente e desesperamos continuamente porque confundimos o efêmero com o permanente, o material com o espiritual. A nossa frustração em encontrar o "amor verdadeiro" é apenas um clichê que esconde o essencial: o amor não é um produto que se compra para combinar com os móveis da sala. É uma arte que se cultiva. Profundamente. Demoradamente.

Por isso, leitores desesperados e sonhadores arrependidos, leiam Jane Austen e limpem as vossas lágrimas! Primeiras impressões todos temos e perdemos. Mas o amor só é verdadeiro quando acontece à segunda vista."

João Pereira Coutinho, em "Folha Online"
colunista do jornal português "Expresso". Reuniu os seus artigos no livro "Vida Independente: 1998-2003". Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras, para a Folha Online (Brasil).

quinta-feira, março 16, 2006

Fernando Pessoa

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."

quarta-feira, março 15, 2006

"A Música do Acaso" - Paul Auster

"Pode um homem ser verdadeiramente livre? E essa liberdade conduz necessariamente à felicidade?

Jim Nashe é um frívolo bombeiro de Boston que precisa de música como do ar que respira. A mulher abandona-o pouco antes da morte de seu pai, que nunca conheceu e que lhe deixa uma inesperada herança, que ele esbanja à medida que viaja sem rumo pelos Estados Unidos. Sem que estabeleça qualquer ponto de chegada, Jim deixa-se conduzir pelo acaso, que se torna a força motriz que determina a sua vida, transformando-a numa sucessão de acontecimentos aparentemente sem significado. Uma vida errante passada numa solidão quase completa, em que experimenta a divertida e dilacerante sedução do desenraizamento absoluto. Até ao dia em que a música do acaso lhe sugere uma outra aventura: apostar tudo numa única carta...

A Música do Acaso é um romance sobre liberdade e destino. Um universo bizarro onde a realidade se transforma e um simples jogo muda irremediavelmente as vidas dos jogadores que nele participam.

Obsessão, melancolia e o lado mais negro da natureza humana – alguns dos temas mais caros ao autor – estão todos aqui, neste romance emblemático do trabalho literário de Paul Auster."

Edições ASA

O tempo não sabe nada

O tempo não sabe nada
o tempo não tem razão
o tempo nunca existiu
é da nossa invenção

se abandonarmos as horas para nos sentirmos sós
meu amor o tempo somos nós

o espaço tem o volume
da imaginação
além do nosso horizonte
existe outra dimensão

o espaço foi construído sem princípio nem fim
meu amor tu cabes dentro de mim

o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes para quem se quer encontrar

a nossa história começa
na total escuridão
onde o mistério ultrapassa
a nossa compreensão

a nossa história é o esforço para alcançar a luz
meu amor o impossível seduz

o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes para quem se quer encontrar.

Jorge Palma

terça-feira, março 14, 2006

Confidências

"Bem amada (o)
Quero falar-lhe e não sei o que dizer em meu afastamento! Que me sinto acorrentado às horas, como prisioneiro infeliz, contando-as, minuto a minuto, à espera do momento de solidão. Longe dos homens e das coisas, para aproximar-me de ti...? Que a vida para mim é vazia e sem sentido, como um fantasma errante... Que essa distância, tirando-a de mim, é um martírio tremendo, ao qual não sei por quanto tempo resistirei...?
Não sei o que te diga; como lastime a tristeza que me invade; como chore o tempo que estivemos juntos; como desejo estar perto de ti! Vou dizer-te principalmente isto: amo-te muito mais agora, porque te conheço mais, também. À distância, esta saudade enorme vai tecendo o fio de tua presença a meu lado e já vejo comigo, a todo o momento, uns olhos tristes que me disseram adeus chorando, a boca linda que me beijava tanto, o corpo voluptuoso que me ensinou a pecar, a voz serena em que se apoiavam minhas palavras apaixonadas e os braços macios que me abraçavam com força!
Pego o teu retrato e coloco-o à minha frente, para saber que esta tristeza que me aflige agora tem uma razão de ser, pois tu de facto existes e me amas muito também!
Responde-me depressa, manda-me um pouco de ti, pois assim talvez alivie um pouco a tortura de amor.
Já não suporto de tanta saudade!
Seu(sua), sempre..."

segunda-feira, março 13, 2006

Ser feliz (Fernando Pessoa)

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar
irritado algumas vezes, mas não esqueço
de que minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena
viver, apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser
capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo."

sexta-feira, março 10, 2006

"A boca gasta de palavras
Os olhos fundos de dor
A alma negra de angústia
Cenário triste reflectido no espelho
É assim que a vida me quer
Persegue-me com rasteiras, ratoeiras e armadilhas
Eu não sou animal selvagem
Sou mulher que não baixa os braços
Não me rendo nem me deixo vencer
Rio-me frente a cada obstáculo
A boca não pára de sorrir
A alma reflecte uma aura luminosa
Os olhos são admiravelmente radiantes
A vida é traiçoeira
E eu adoro desafios."

quinta-feira, março 09, 2006

A grandeza de Miguel Torga

Sísifo

Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duroDo futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendoIlusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.

quarta-feira, março 08, 2006

Tolerância

Um director de uma empresa com poder de decisão, gritou com o gerente porque naquele momento estava com muito ódio.
O gerente, chegou a casa e gritou com a sua esposa, acusando-a de gastar muito, com um bom e farto almoço à mesa.
A esposa nervosa gritou com a empregada que acabou por partir um prato que caiu ao chão.
A empregada chutou o cão no qual havia tropeçado, enquanto limpava os cacos de vidro.
O cão saiu a correr de casa e acabou por morder uma senhora que ia a passar na rua.
A senhora foi à farmácia para fazer um curativo e tomar uma vacina, e gritou com o farmacêutico, porque lhe doeu ao dar a vacina.
O farmacêutico, chegou a casa, gritou com a sua esposa, porque o jantar não estava do seu agrado.
A sua esposa, tolerante, um manancial de amor e perdão, afagou os seus cabelos e beijou-o, dizendo:
"Querido, prometo que amanhã farei o seu prato preferido. Você trabalha muito, está cansado e precisa de uma boa noite de sono. Vou trocar os lençóis da nossa cama por outros bem limpinhos e cheirosos para que você durma tranquilo. Amanhã você vai sentir-se bem melhor. E retirando-se deixou-o sozinho com os seus pensamentos. "
Naquele momento, rompeu-se o círculo do ódio, porque esbarrou-se com a TOLERANCIA, a DOÇURA, o PERDÃO, e o AMOR.
Se você está ou se a/o colocaram num círculo de ódio, lembre-se de que com TOLERÂNCIA, DOÇURA, PERDÃO E AMOR pode quebrá-lo.
"Não digamos 'não', nem 'nunca mais'.
Não digamos 'sempre' ou 'jamais'.
Digamos, simplesmente: 'ainda'! ...
Ainda nos veremos um dia .
Ainda nos encontraremos na estrada da vida .
Ainda encontraremos a pousada,
o afecto almejado, a guarida.
Ainda haverá tempo de amar,
sem medo, totalmente... infinitamente...
sem ter medo de pedir, de implorar,
ou chorar...
Ainda haverá tempo,
para ser feliz novamente.
Ainda haverá tristeza,
ainda haverá saudade,
ainda haverá primavera,
o sonho, a quimera.
Ainda haverá alegria,
apesar das cicatrizes.
Ainda haverá esperança,
porque a vida ainda é criança...
e amanhã será outro dia!... "

terça-feira, março 07, 2006

Amor


"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como um bronze que soa, ou como um címbalo que tine. E ainda que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e tivesse toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, se não tivesse amor, não seria nada. E, ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada me aproveitaria."
(Carta de S. Paulo aos Coríntios)

segunda-feira, março 06, 2006

"Como será possível acreditar num Deus criador do Universo, se o mesmo Deus criou a espécie humana? Por outras palavras, a existência do homem, precisamente, é o que prova a inexistência de Deus."
José Saramago

quinta-feira, março 02, 2006

De Miguel Torga - "Camara Ardente"

Não sei quantos seremos,
mas qu'importa?!
um só que fosse e já valia a pena.
Aqui,no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto,
esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.