terça-feira, agosto 12, 2008

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quarta-feira, maio 28, 2008

Dias menos bons

Há dias em que me apetece fugir, desistir de tudo... É o mais fácil e talvez o mais justo, desistir do que não vale a pena e principalmente desistir das pessoas que não valem a pena e nos picam o caminho...

Sim, acho justo desistir das pessoas que não valem a pena, mesmo daquelas que nos podem e lixam a vida. A solução é a defesa, é desligar e passar à frente sem dar importância. É este o desafio, a ideia. Viver num mundo de dificuldades, talvez de esgoísmo, não sei, talvez seja eu que esteja errada ao insistir que o mundo e as pessoas podiam ser melhores... Talvez o romantismo esteja fora de moda... Talvez...

terça-feira, abril 29, 2008

costurar a vida

"A única forma de te ser fiel é costurar a vida, lentamente, pelo avesso da dor, inventar um peito onde possas deitar-te, cobrir com lenços grandes os espelhos a fim de que nada impeça o teu regresso.

Como não quis ver-te partir, estarei aqui no dia da tua chegada."


António Lobo Antunes, in "Segundo Livro de Crónicas"

sábado, abril 19, 2008

escritores

"O apreço dos jovens escritores e dos aspirantes a escritores que lhe enviavam manuscritos e cartas confundia-o: como entender que houvesse mulheres e homens dispostos a existirem, quotidianamente, na aflição e na angústia?"

António Lobo Antunes, in "Segundo Livro de Crónicas"

quarta-feira, abril 09, 2008

Zahir

"Um ano depois, eu acordo a pensar na história de Jorge Luís Borges: algo que, uma vez tocado ou visto, nunca é esquecido e vai ocupando o nosso pensamento até nos levar à loucura."

Paulo Coelho, in "O Zahir"

segunda-feira, março 17, 2008

Mar Sonoro

"Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais discreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim."

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, março 06, 2008

quarta-feira, março 05, 2008

o amor

"Tinha de ensiná-la a pensar no amor como um estado de graça que não era um meio para nada, mas sim um princípio e um fim em si mesmo."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

para lá do amor

"Seguiam em silêncio como dois velhos esposos escaldados pela vida, para lá das armadilhas da paixão, para lá das trapaças brutais das ilusões e dos reflexos dos desenganos: para lá do amor. Pois tinham vivido juntos o suficiente para se darem conta de que o amor era amor em qualquer tempo e em qualquer lugar, mas tanto mais denso quanto mais próximo da morte."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

um único ser dividido

"Acabaram por se conhecer tão bem que em menos de trinta e dois anos de casados eram um único ser dividido e sentiam-se incomodados com a frequência com que adivinhavam, sem querer, os pensamentos, um do outro, ou pelo acidente ridículo de um se antecipar, em público, ao que o outro tinha para dizer. Tinham lidado juntos com as incompreensões quotidianas, os ódios instantâneos, as maldadezinhas recíprocas e os fabulosos relâmpagos de glória da cumplicidade conjugal. Foi a época em que se amaram melhor, sem pressas e sem excessos, e foram os dois mais conscientes e mais agradecidos pelas suas vitórias inverosímeis contra a adversidade. A vida ainda lhes depararia outras provas mortais, evidentemente, as já não importava: estavam na outra margem.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

a vida mundana

“A vida mundana, que lhe trazia tanta insegurança antes de a conhecer, não era mais que um sistema de pactos atávicos, de cerimónias banais, de palavras previstas, com o qual, em sociedade, se entretinham uns aos outros para não se assassinarem.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

o homem

“Só elas sabiam quanto pesava o homem que amavam com loucura e que talvez as amasse, mas que tinham tido que continuar a criar até ao último suspiro, dando-lhe de mamar, mudando-lhe as fraldas sujas, distraindo-o com historinhas de mãe para lhes aliviar o terror de sair de manhã e dar de cara com a realidade. E, no entanto, quando o viam sair de casa, instigado põe elas próprias a engolir o mundo, então eram elas que se ficavam com o terror de que o homem não voltasse nunca. Isso era a vida. O amor, se o houvesse, era uma coisa à parte: outra vida.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

terça-feira, março 04, 2008

virgindade

“Florentino Ariza tinha-a libertado da virgindade de um casamento convencional, que era mais pernicioso do que a virgindade congénita e do que a abstinência da viuvez. Tinha-lhe ensinado que nada do que se fizer na cama é imoral se contribuir para perpetuar o amor.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

a vida

“… os seres humanos não nascem para sempre no dia em que as suas que as suas mães os dão à luz, mas a vida os obriga uma e outra vez ainda a parirem-se a si mesmos.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

a cidade

Eram assim: passavam a vida a proclamar o orgulho da sua origem, os méritos históricos da cidade, o preço das suas relíquias, o seu heroísmo e beleza, mas eram cegos ao caruncho dos anos. (…)
- Que nobre é esta cidade – dizia – que há quatrocentos anos que estamos a tentar dar cabo dela e ainda não conseguimos.”


Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

segunda-feira, março 03, 2008

a memória do coração

Era ainda demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as más recordações e exalta as boas e que, graças a esse artifício conseguimos suportar o passado.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

o pai

Subitamente revelou-se a fundo a imagem do homem a quem conhecera antes de qualquer outro, que o tinha criado e educado, que dormira e fornicara durante trinta e dois anos com a sua mãe e que, no entanto, nunca antes dessa carta se lhe tinha mostrado tal como era em corpo e alma, por timidez pura e simples.”


Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

olhar por cima do ombro

Mas no meio da desordem da saída, senti-o tão próximo, tão nítido naquela confusão, que uma força irresistível a obrigou a olhar por cima do ombro ao sair do tempo pela nave central e então viu, a dois palmos dos seus olhos, os outros olhos de gelo, o rosto pálido, os lábios petrificados pelo susto do amor.”

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

domingo, março 02, 2008

Carne para convento

"As duas irmãs, contra as suas graças naturais e a sua vocação festiva, eram carne para convento."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Um reino inclemente e mesquinho

"Lembrou-lhe que os fracos não entrariam jamais no reino do amor, que é um reino inclemente e mesquinho, e que as mulheres só se entregam a homens decididos porque esses lhe incutem a segurança tão ansiada para enfrentar a vida."


Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Gabriel García Márquez


Súplica

"Suplicou a Deus que lhe concedesse pelo menos um instante para que ele não se fosse sem saber o quanto ela o tinha amado, ultrapassando as dúvidas de ambos, e sentiu um ímpeto irresistível de começar a vida com ele outra vez desde o princípio para se dizerem tudo quanto lhes tinha ficado por dizer, e voltar a fazer bem qualquer coisa que tivessem feito mal no passado."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Quando a sabedoria chega...

"Outra coisa bem diferente teria sido a vida para eles, se tivessem sabido a tempo que era mais fácil ultrapassar as grandes catástrofes matrimoniais que as misérias minúsculas do dia-a-dia. Mas se alguma coisa tinham aprendido juntos era que a sabedoria chega quando já não nos serve para nada."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Amores lentos e difíceis

"Os seus amores eram lentos e difíceis, perturbados amiúde por presságios sinistros, e a vida parecia-lhes interminável."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

Sucumbindo ao desespero

"Jeremiah de Saint-Amour amava a vida com uma paixão sem sentido, amava o mar e o amor, ia sucumbindo ao desespero, como se a sua morte não tivesse sido uma decisão sua mas um destino ineroxável."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"


Todo o medicamento era veneno

"Pensava que de um ponto de vista rigoroso todo o medicamento era veneno e que setenta por cento dos alimentos vulgares apressavam a morte."

Gabriel García Márquez, em "O Amor nos Tempos de Cólera"

domingo, fevereiro 17, 2008

Sobreviver

"«Você acha que eu estou transtornada, mas que me vai passar. Lágrimas fáceis, pensa você, lágrimas piegas, hoje presentes, amanhã já secas. Pois bem, é verdade, já me aconteceu estar transtornada, imaginar que não podia haver no mundo nada pior, e depois o pior aconteceu, como infalivelmente acontece, e eu sobrevivi, pelo menos em aparência. Mas o problema é esse! Para não ficar paralisada de vergonha, tive de passar a vida a sobreviver ao pior. E é a esta sobrevivência que já não sobrevivo. Se sobreviver desta vez, já não terei outra oportunidade de não sobreviver. Para bem da minha própria ressurreição, não posso sobreviver desta vez.»"


J. M. Coetzee, em "A Idade do Ferro"

Hallelujah

Ganhar terreno

"Alguma coisa dentro de mim faz pressão, procura ganhar terreno. Tento não lhe ligar, mas a coisa insiste. Cedo uma polegada; a pressão aumenta. Cedo com alívio, e a vida volta de repente à normalidade. Entrego-me de novo com alívio à normalidade. Mergulho nela de cabeça. Perco a vergonha, fico desavergonhada como uma criança. A vergonha dessa desvergonha: eis o que não posso esquecer, eis o que depois tanto me custa suportar. É por isso que tenho de me dominar, de me virar de frente para a descida. Se não o fizer, perco-me de vez."

J. M. Coetzee, em "A Idade do Ferro"

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Se nada se mexer

"Se nada se mexer é o tempo eterno, o suor, a camisa pegajosa sobre a pele e o morto impávido e gelado por detrás da sua língua mordida."

Gabriel García Marquez, em "A Revoada"

sábado, janeiro 12, 2008

Há dentro de nós um poço

"Há dentro de nós um poço. No fundo dele é que estamos, porque está o que é mais nós, o que nos individualiza, a fonte do que nos enriquece no em que somos humanos. E a vida exterior, o assalto do que nos rodeia, o que visa é esse íntimo de nós para o ocupar, o preencher, o esvaziar do que nos pertence e nos faz ser homens. Jamais como hoje esse assalto foi tão violento, jamais como hoje fomos invadidos do que não é nós. É lá nesse fundo que se gera a espiritualidade, a gravidade do sermos, o encantamento da arte. E a nossa luta é terrível, para nos defendermos no último recesso da nossa intimidade. Porque tudo nos expulsa de lá Quando essa intimidade for preenchida pelo exterior, quando a materialidade se nos for depositando dentro, o homem definitivamente terá em nós morrido."

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente IV'

segunda-feira, janeiro 07, 2008

A Primeira Palavra que em Toda a Minha Vida me Esgotou o Ser

"Uma palavra. Disse-a. Amo-te - uma palavra breve. Quantos milhões de palavras eu disse durante a vida. E ouvi. E pensei. Tudo se desfez. Palavras sem inteira significação em si, o professor devia ter razão. Palavras que remetiam umas para as outras e se encostavam umas às outras para se aguentarem na sua rede aérea de sons.

Mas houve uma palavra - meu Deus. Uma palavra que eu disse e repercutiu em ti, palavra cheia, quente de sangue, palavra vinda das vísceras, da minha vida inteira, do universo que nela se conglomerava, palavra total. Todas as outras palavras estavam a mais e dispensavam-se e eram uma articulação ridícula de sons e mobilizavam apenas a parte mecânica de mim, a parte frágil e vã. Palavra absoluta no entendimento profundo do meu olhar no teu, palavra infinita como o verbo divino.

Recordo-a agora - onde está? Como se desfez? Ou não desfez mas se alterou e resfriou e absorveu apenas a fracção de mim onde estava a ternura triste, o conforto humilde, a compaixão. Não haverá então uma palavra que perdure e me exprima todo para a vida inteira? E não deixe de mim um recanto oculto que não venha à sua chamada e vibre nela desde os mais finos filamentos de si?

Uma palavra. Recupero-a agora na minha imaginação doente. Amo-te. Na intimidade exclusiva e ciumenta do nosso olhar mútuo e encantado.

Fecha-nos o lençol na claridade difusa do amanhecer, estás perto de mim no intocável da tua doçura. Frágil de névoa. Fímbria de sorriso e de receio, de pavor, no meu olhar embevecido.

Uma palavra. A primeira que em toda a minha vida me esgotou o ser. A que foi tão completa e absorvente, que tudo o mais foi um excesso na criação. Deus esgotou em mim, na minha boca, todo o prodígio do seu poder. Ao princípio era a palavra. Eu a soube. E nada mais houve depois dela."



Vergílio Ferreira, in "Para Sempre"

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Maior Prazer Dar que Receber

"Uma das leis cómicas da vida é a seguinte: é amado não quem dá, mas quem exige. Quer dizer, é amado aquele que não ama, porque quem ama dá. E compreende-se: dar é um prazer mais inesquecível do que receber; a pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária, quer dizer que a amamos. Dar é uma paixão, quase um vício. A pessoa a quem damos, torna-se-nos necessária."

Cesare Pavese, in "O Ofício de Viver"

quinta-feira, janeiro 03, 2008

A Recuperação da Alma

"Quando a uma árvore são cortados os ramos da copa, vão-lhe nascendo mais perto da raiz novos rebentos. Do mesmo modo, também as almas que ao despontar adoecem e quase fenecem regressam frequentemente à primavera dos sentimentos, à apreensiva infância onde tudo começa, como se aí pudessem encontrar novas esperanças e reatar o fio condutor da vida que antes fora quebrado. Os rebentos que brotaram perto das raízes anseiam por uma rápida ascensão, mas tudo não passa de uma ilusão, pois nunca a partir deles se voltará a desenvolver uma verdadeira árvore."

Hermann Hesse, in "Hans"