segunda-feira, novembro 22, 2004

Negrume de Ser - Cap.IV

A minha osteoporose está a evoluir demasiado, talvez porque não encontrasse resistência da minha parte, eu que a esperava há tanto tempo. Um pequena queda nas escadas obrigou-me a ficar acamada. O médico diz que não há muitas esperanças, até porque a minha idade começa a ser avançada. Surpreende-se com a minha calma, tão tranquila eu estar à espera do fim. Ainda me resta alguma força para escrever as minha últimas palavras. Não sei o que dizer. Tudo em mim se esgotou, as minha filosofias, sentimentos e raciocínios. Foi-se uma vida atribulada de dúvidas, de actos contraditórios, de situações incoerentes. Talvez pedisse à juventude que espreita agora para a vida que continuasse a buscar um sentido para isto tudo, o sentido que eu nunca consegui encontrar, ou se o encontrei perdi-o na mesma vida.

Mas nunca se deixem enganar pela hipocrisia da vida, pela rosa vermelha, atraente pela sua beleza, mas traiçoeira pelos seus muitos espinhos. Tenham calma, pensem naquilo que estão a fazer, não sejam precipitados nas grandes decisões, não corroborem a vossa personalidade, os vossos ideais, por um desejo instantâneo, por um estímulo superficial. Não traiam o vosso verdadeiro sonho, como eu o fiz, por causa do idiota do Chico. Despeço-me de toda a humanidade, sem saudades, sem sentimentos, sem emoção. Agradeço a bondade da Teresa, do Zé e do meu Pedrinho, por me terem aturado, por terem se suportar o meu cepticismo, o meu silêncio perturbador, a minha indiferença pela vida...

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