sábado, novembro 20, 2004

Negrume de Ser - Cap.III

O Zé insistiu muito para que fosse. Lisboa, cidade de memórias. Fui professora no Rossio durante muitos anos. Tenho boas recordações. O patriotismo ávido dos alunos e o desejo de servir a nação. A guerra e a desilusão. Os rebeldes insaciáveis, com sede de liberdade. E a liberdade veio, mas já não era a mesma liberdade, era uma coisa chamada democracia, uma representação da igualdade, da soberania popular, da liberdade de expressão entre outras palavras bonitas. Mas os traumas eram recentes, havia feridas enormes, incuráveis. Outras dores vieram, outros reis, outros valores com a mesma merdice da pobreza, da discriminação, da desigualdade social infinita. Promessas, muitas. Ninguém as cumpre. Já não os ouço, continuam os mesmos hipócritas, corruptos, à raiva pelo poder, porque ninguém é capaz de se sacrificar por um povo, mas pelo dinheiro, pela fama, pelo prestígio, pelo poder. Enfim, conversas da treta.

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