segunda-feira, novembro 22, 2004

Negrume de Ser - Cap. IV

Hoje vou à praia! Ver o mar pela última vez! Como posso eu ter tanta certeza disso? Eu, um ser tão comum, adivinhar o meu próprio futuro, com tanta convicção? Sinto-o, como ainda sinto o meu coração a bater, mas não o sei explicar, assim como não sei explicar por que tudo tem de ter um princípio e um fim. O ruído das ondas lembra-me tantas coisas, a lembrança de ter sido alguém, de ter tido uma vida, sonhos, momentos inesquecíveis e essencialmente, por ter acreditado em alguma coisa, por ter achado que era alguém e era capaz de agir como se fosse alguém. Não somos nada, nem um grão de areia que existe nesta praia. Como pode ser possível? Como podem milhões de pessoas viverem enganadas pela vida? Criarem ideais, realizarem projectos, falarem como se fossem gente, sonharem com felicidades absurdas? Talvez eles estejam certos e eu é que esteja errada. Será justo? Ou será que esta palavra justiça seja também uma hipocrisia, uma criação dos homens iludidos pela porcaria da vida? O Chico explicava tudo pela fé que tinha em Deus. E se Deus não existisse, como é que ele iria explicar esta merda?

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