segunda-feira, novembro 08, 2004

01 Novembro

Hoje fui ao cemitério, como muita gente. Aliás, hoje o cemitério estava cheio de gente viva. Juntaram-se as gerações, os mortos visitados pelos seus descendentes, como um dia poderá voltar a acontecer numa outra era, se Jesus cumprir com as suas promessas, se ele as prometeu...
Mas, como crente, acho que, o que acontece todos os anos neste dia 01 de Novembro, é que os vivos reencontram-se, de certa forma, com os mortos, todos se lembram daqueles que faleceram. Ao olharmos para os retratos fixados nos jazigos, recordamos aquela pessoa que nos foi querida, que viveu connosco, mas que foi chamada por Deus, que acabou o seu percurso neste mundo mas que nos deixou muitas saudades, muita nostalgia.
Também pensei que findas estas gerações, nós estaremos junto dos nossos mortos e no lugar dos vivos estarão pessoas que ainda não existem, os nossos descendentes. E este processo repetir-se-á por muitas gerações, por muitos anos, séculos até. Talvez, no futuro, não vá existir um dia para celebrar os mortos, mas eles estarão enterrados, quem sabe à espera de uma visita dos vivos. E Deus não é só inteligente como é a inteligência. Ninguém escapa à morte nem ninguém sabe quando vai morrer.
Estar hoje a pedir o descanso eterno dos nosso entes queridos é perpetuar um costume que amanhã nos vai “vitimar”. Amanhã seremos nós os mortos que aguardam a visita dos vivos.
E o cheiro das flores, as frases bonitas gravadas no mármore, os familiares, as palavras do padre, as nossas orações, são gestos que marcam o encontro dos vivos com os mortos.
Hoje já não há as lágrimas do dia fatal, hoje há a saudade, o carinho de uma lembrança, um pouco de tristeza pela ausência.
Pouco tempo depois das cerimónias, as pessoas vão saindo, alguma reencontram amigos e familiares a quem cumprimentam com um gesto mais contido. Depois do silêncio das orações do sacerdote, o barulho dos passos, dos tacões, das palavras de cortesia, ocupam o cemitério, que vai ficando mais vazio mas não menos colorido.
O anoitecer traz o cheiro das velas, dos círios que iluminam a morada dos defuntos. Cá fora, juntam-se pessoas, mais animadas, os carros, muitos carros e gente em direcção a eles, procuram a recordação de um ser já desaparecido.
É, sem dúvida, um dia diferente, não tão triste, mas sem a alegria do quotidiano. Sem a rotina, o stress do dia-a-dia. Fica apenas a nostalgia deixada pelos seres que deixaram um vazio entre nós, mesmo que tenha sido há imenso tempo.

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