Ainda aí estás? Mas como? Tens paciência para me ouvir? Pois, o problema é mesmo esse, estás a demorar mais tempo do que imaginava. Eu que pensei que estavas apenas de passagem e repeti vezes sem conta para mim mesma: isto não é nada, não significa mesmo nada. E andei assim dois longos meses, tão agradáveis, contigo debaixo d’olho.
Mas quando não estou contigo, começo a sentir um aperto, uma saudade, uma vontade incontrolável de estar contigo. Não te vás embora já! Eu prometo não te chatear. Vou-me portar bem. Não te vou dar sermões. Não te vou picar. Quero apenas ouvir-te. Estar horas mergulhada na singularidade do teu ser, sempre tão curioso. Quero conhecer-te, como se me lembrasse de não te conhecer. Mas era diferente. Quero entrar no teu mundo, perceber como funcionas, os teus neurónios em movimento, o coração a palpitar, o carinho das tuas mãos, o calor do teu corpo…
Sei lá, as saudades a apertarem e a iminência de te perder para sempre. Tu que não te queres dar a ninguém. Tens razão, o mundo dos afectos é um vulcão em actividade, a ferver, a incendiar e até a destruir o que o rodeia. É, amores verdadeiros ou sérios podem ser catástrofes, prisões, desilusões, tanta porcaria destrutiva, poluição que até cheira mal. Mas há também o outro lado, o crescimento completo, a paixão, o auge da felicidade, que nunca se alcança apenas com o sucesso. Há um mundo fantástico de descoberta, de entrega, cumplicidade, onde não se sabe quando começa e acaba o nosso eu.
Mas continuas aí? Com esse sorriso maroto, ou preferes que o apelide de macho? Não me convences com essa treta da virilidade. Não precisas disso para nada. Não precisas de te mostrar para demonstrares que és um grande homem, em todos os aspectos. Se te concentrares no interior do teu ser verás que não tens necessidade de provar a ninguém quem és, como és e do que és capaz. Confia em ti, como sempre e como em todas as coisas.
E continuas cheio de dúvidas. Serei eu? Pergunta-me o que quiseres. Terás todas as respostas, as minhas, mas talvez não as que procuras.
Sandra Bastos
quarta-feira, julho 12, 2006
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