"Ao ler Os Seis e fazendo já uma “leitura nas entrelinhas” é inevitável não questionar o valor da amizade e dos verdadeiros amigos – aqueles que resistem e conseguem aceitar-nos mesmo quando não tomamos as decisões mais acertadas, mesmo quando não damos notícias, estamos longe, … aqueles que resistem a tudo e de quem nos lembramos a propósito de tudo e de nada, aqueles que nos marcam com sorrisos e com lágrimas. (...)
Por tudo isto, no teu romance, a simplicidade de estilo não coincide de forma alguma com um enredo ligeiro. Mesmo o leitor mais desatento não tem dificuldade em identificar o existencialismo e a reflexão sobre a fragilidade humana que está presente nas tuas obras, não sendo Os Seis excepção.
O recurso a frases curtas, o discurso suspenso, o aparente excesso de pontuação ao invés de aparentar fragmentação ou incoerência, estimula a pausa, convida à reflexão e implica o leitor no que lê. Leva-o à leitura subentendida, à vivência dos factos.
As seis personagens da obra aparentemente muito semelhantes (na idade, na experiência, no meio), acabam por ser muito mais que um estereótipo e permitir ao leitor ver em cada uma delas traços de si próprio ou do adolescente que foi.
Os factos narrados, o relacionamento entre as personagens, as condicionantes quer da aproximação quer do afastamento, o desmembramento do grupo, a amizade real ou aparente, os triângulos amorosos, a valorização da beleza física, as aparências, o divórcio são temas muito actuais que conferem muita importância ao romance e o tornam verosímil. Deste modo, elogio muito a realidade maior, que pelo estilo, pelo suspense, pelas interrogações retóricas, (etc) desperta no leitor o oculto e lhe abre os horizontes. Sou adepta de leituras profundas que me obriguem a pensar, a reviver factos passados, me inquietem e a tua obra, apesar de achar que podia ser mais desenvolvida, permite o envolvimento necessário e obriga à reflexão.
Quando digo que a tua obra podia ser mais desenvolvida, refiro-me sobretudo ao facto de teres criado um enredo rico e dotado as tuas personagens de muita vida própria para depois apresentares o rumo dos factos de uma forma demasiado simplista e cortares, de certa forma, o raciocínio ao leitor.
Deixo-te aqui um desafio, um apelo, incentivo… o que lhe quiseres chamar! Não tenhas receio de escrever obras mais volumosas… N’ Os Seis criaste um enredo que te permite escrever, escrever e escrever… e tu és capaz disso… Acabei de ler a obra e fiquei com vontade de ler mais… continuar a lê-la. É uma crítica positiva… significa que estás no bom caminho, que os teus escritos são muito superiores a muita literatura que inunda as nossas livrarias e que deves ousar escrever obras mais densas.
Enumero agora alguns aspectos menores:
Não percebo o motivo de realçares muito a beleza física das tuas personagens femininas, se bem que são aspectos muito valorizados pelos adolescentes (daí a tua opção se calhar).
Recorreste por vezes ao calão e a uma linguagem mais popular que a meu ver não se identifica muito com a tua escrita. Refiro alguns exemplos: “merda”; “enfardava”; “seu filho da puta”; “caralhos”; “que se fodesse” (esta última atribuída ao Rui, uma personagem com uma conduta exemplar.
Para terminar, dou-te os parabéns pelo teu trabalho.
Continua que os bons leitores agradecem."
Esperança Martins
quinta-feira, setembro 28, 2006
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