terça-feira, junho 13, 2006

Triste fado!!

Crónica

eram barcos e barcos que largavam
fez-se dessa matéria a nossa vida
marujos e soldados que embarcavam
e gente que chorava à despedida

ficámos sempre ou quase ou por um triz
correndo atrás das sombras inseguras
sempre a sonhar com índias e brasis
e a descobrir as próprias desventuras

memória avermelhada dos corais
com sangue e sofrimento amalgamados
se rasga escuridões e temporais
traz-nos também nas algas enredados

e ganhou-se e perdeu-se a navegar
por má fortuna e vento repentino
e o tempo foi passando devagar
tão devagar nas rodas do destino

que ou nós nos encontramos ou então
ficamos uma vez mais à deriva
neste canto que é nosso próprio chão
sem que o canto sequer nos sobreviva

Letras do Fado Vulgar

Vasco Graça Moura

1942 Nasceu no Porto. Licenciado em Direito pela Universidade de Lisboa. Ocupa actualmente um cargo directivo na Fundação Gulbenkian. Tradutor, ensaísta, poeta e romancista.

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