Depois de ter publicado excertos de “Sensibilidade e Bom Senso”, da sempre favorita Jane Austen, chega a vez de dizer o que realmente penso sobre o livro. Vou-me concentrar nas personagens, o ponto mais interessante para mim.
Elinor, a protagonista, é o bom senso, a racionalidade em pessoa. Para ela tudo tem uma explicação, todos os gestos devem ser bem pensados, as atitudes as mais correctas… é uma excelente pessoa, sempre preocupada com a família, principalmente com a irmã Marianne.
Quando o pai morre e, pelos machismos absurdos da época, toda a sua fortuna é deixada ao filho mais velho (fruto do primeiro casamento de Mr. Dashwood). As irmãs Elinor, Marianne e Margaret, e a mãe são obrigadas a abandonar o luxo em que viviam e rumar a uma terra distante, em Barton, onde um parente afastado, Sir John Middleton lhes alugou uma casa a muito bom preço.
Elinor é que governa a casa de acordo com os poucos rendimentos que tinham (note-se que poucos rendimentos para elas eram ter uma casa com apenas quatro quartos, dois empregados, sem carruagem…). É também de realçar o facto de que na época só as mulheres realmente pobres trabalhavam, as outras (incluindo as da classe de Elinor) contentavam-se em bordar, desenhar, ler, tocar piano, passear, fazer compras e ir a festas… as mais virtuosas! Porque as mais fúteis dedicavam-se apenas a cuidar da sua aparência (para “caçar” um marido rico e destacarem-se nas festas), a falar mal dos outros e… a não fazer nada! Bem, isto no século XVIII e XIX, todos sabem que agora as mulheres trabalham:)
Elinor tem mais juízo do que a própria mãe! É mesmo verdade! Sem ela, aquela família de mulheres estava desgraçada! O meio-irmão, Jonh Dashwood, o herdeiro, é um egoísta, tem uma mulher muito pior do que ele, e ambos, ricos, não têm a mínima solidariedade para com as pobres mulheres. Acham que dar uma esmola às irmãs vai prejudicar a sua imensa fortuna.
Enquanto esperavam pela nova casa, as irmãs têm uma visita surpreendente, Edward Ferrars, irmão de Fanny (a terrível esposa de John Dashwood), que é o oposto da venenosa irmã, felizmente! Muito tímido, mesmo inseguro, vive um dilema muito chato. Quer ser pastor (padre, mas com permissão para casar), mas a mãe (que é tal e qual Fanny), acha que o sacerdócio é uma profissão menor, por isso quer que o coitado do Edward siga uma carreira notável na política ou em qualquer coisa digna da sua importância! Resultado: com medo de enfrentar a mãe, Edward nem faz uma coisa nem outra, ou seja, também não faz nada! (não eram só as mulheres…)
Falei no Edward porque ele vai-se apaixonar pela Elinor e… claro, ela por ele! Mas como em todas as histórias de amor, há obstáculos! E no caso deles, o amor só por si não é suficiente para ficarem logo juntos. Para nós parecem estúpidos os motivos que os separam, mas na época faziam todo o sentido. O primeiro obstáculo está na família de Edward, que quer vê-lo casado com Miss Morton, uma mulher rica. Elinor era filha de um homem abastado mas já não o é mais, por isso é logo discriminada pelos Ferrars.
Mas não é isso que os afasta. Edward, em tempos, estudou, em Plymouth, com um professor que tinha uma sobrinha muito ambiciosa, Lucy Steele. Esperta, ela consegue conquistar Edward e arrancar-lhe uma promessa de casamento. Ah, Lucy também não tinha fortuna. O desgraçado do Edward fica preso a este compromisso durante anos e, quando conhece Elinor, percebe que cometeu um grande erro ao se ter envolvido com uma mulher como Lucy. Mas como Edward é também um homem muito sensato que, acima de tudo, honra os seus compromissos, mesmo aqueles que não quer cumprir, mantém-se fiel à sua promessa e, como é óbvio, sofre por não poder ficar com a mulher que ama e ter de casar com uma mulher que simplesmente não gosta. Que destino miserável!
Elinor não percebe por que Edward não se decide, não avança! Todavia, vem a conhecer em Barton a própria Lucy! E a lata desta ao fazer-se passar por amiga de Elinor, contando-lhe todos os pormenores da sua relação com Edward, repetindo vezees sem conta que Edward a amava muito e sofriam muito por não poderem casar logo… O espanto de Elinor! O desgosto! Acreditem que ela ainda perguntou se era do mesmo Edward que falavam… Parecia que o seu amor tinha de acabar! Era impossível!
terça-feira, abril 11, 2006
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