segunda-feira, março 20, 2006

O Clube dos Poetas Mortos

"O "Clube dos Poetas Mortos" convida-nos a resgatar emoções tantas vezes caladas em nome do progresso e de uma ordem social instituída.
Do passado ressoam vozes que nos devolvem o perfume e o sabor das sensações inocentes e genuínas de que a vida nos alheou e que não fomos capazes de reencontrar nos horizontes da memória.


É que a vida só faz sentido quando- como nos ensina Thoreau -, lhe soubermos "sugar o tutano", ou seja, quando a fruirmos na sua verdadeira essência. Foi por isso que Thoreau abandonou o Progresso e a Civilização e se refugiou na floresta, perto de Walden Pond, tomando como interlocutora privilegiada a própria Natureza. É por isso que Keating sugere aos seus alunos que quebrem as grilhetas que os acorrentam a uma existência sensaborona e deixem transbordar as emoções que vivem em si. Para isso, importa que saibam acolher o chamamento e os ensinamentos daqueles que melhor souberam celebrar a vida: os poetas, em cuja Arte resplandecem as afeições da Humanidade.

Efectivamente, da frase bíblica" nem só de pão vive o Homem", aplicada ao presente contexto, talvez decorra que "nem só de conhecimentos científicos vive o Homem ", já que, como revela Keating "man writes Poetry not because it is cute, but because he is part of the Human Race."

Keating, não obstante o ensino tradicionalista que lhe foi ministrado (na mesma escola aonde, anos mais tarde, viria a ser professor), sempre soube corresponder aos ideais estéticos dos clássicos, como dos românticos, de Shakespeare como de Whitman, sem nunca pactuar com uma visão tecnicista da Literatura, que a reduz a um fenómeno mensurável e quantificável.

Também os seus alunos, depois de terem colhido os ensinamentos do mestre, se predispõem a experimentar a filosofia do carpe diem . Assim , as reuniões dos jovens na floresta (na senda de Thoreau e do próprio Keating) permitem-lhes saborear os aromas e paladares da vida, consubstanciados nas palavras dos poetas do passado. Destas reuniões, os jovens regressam mais solidários e fortalecidos, mais confiantes e autónomos, mais livres e amadurecidos.

Depois do encontro com os grandes mestres da Literatura, os alunos de Keating recusam-se a ser objecto da vontade dos adultos, e atrevem-se a delinear os seus próprios objectivos e percursos existenciais.

Lamentavelmente, uma Revolução nunca se faz sem que algumas vidas humanas sejam sacrificadas. A vítima desta Revolução foi Neil, o jovem que voluntariamente se recusou a hipotecar a sua alma de artista a uma carreira médica (provavelmente muito bem remunerada).

A administração da escola apressa-se a encontrar um culpado para a morte de Neil. Recusando auto - penalizar - se por ter, ano após ano, coarctado a liberdade dos seus alunos, convertendo-os, assim, em rebeldes potenciais, o director escolhe um alvo mais vulnerável: Keating, que acusa de ter incutido em Neil o desejo de se insurgir contra as determinações do pai.

A expulsão de Keating não consegue deter a marcha da renovação; os ideais e lições de Keating encontraram guarida nos corações dos seus discípulos, plasmando-se claramente no comportamento destes, no final da história.

Por outras palavras, "aniquilou-se" o "capitão", mas permanecem as suas hostes. Já acontecera com Lincoln, o homenageado do poema de Whitman que abre com o vocativo "Oh, Captain, my captain". Como tinha assegurado o próprio Keating, não há nada que se possa opor ao curso da liberdade: "it was always thus, and always thus will be ". "

Ana Maria Marques da Costa Pereira Lopes, em IPV
Professora Adjunta da Área Científica de Inglês da ESEV



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