No número 1784 do Jornal Expresso, publicado no passado dia 6 deJaneiro, o colunista Miguel Sousa Tavares desferiu um violentíssimo ataque contra os professores (que não queriam fazer horas de substituição), assim como contra os médicos (que passavam atestados falsos) e contra os juízes (que, na relação laboral, pendiam para os mais fracos e até tinham condenado o Ministério da Educação a pagar horas extraordinárias pelas aulas de substituição). Em qualquer país civilizado, quem é atacado tem o direito de se defender. De modo que a professora Dalila Cabrita Mateus, sentindo-se atingida, enviou ao Director do Expresso, uma carta aberta ao jornalista Miguel Sousa Tavares. Contudo, como é timbre dum jornal de referência que aprecia o contraditório, de modo a poder esclarecer devidamente os seus leitores, o Expresso não publicou a carta enviada.
Aqui vai, pois, a tal Carta Aberta, que circula pela Net. Para que seja divulgada mais amplamente, pois, felizmente, ainda existe em Portugal liberdade de expressão.
*Carta duma professora*
«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta.
O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula.
Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência.
O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata. O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação desaber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido.
O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão».
O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se pôr no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas.
O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país.
O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição. O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos.
Tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo como propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação. »
Dalila Cabrita Mateus, professora, doutora em História Moderna eContemporânea».
2 comentários:
Endosso os comentarios da Dra. e informo outros:
A sala de aula nos traz experiencias desagradaveis , pois assim que comparecemos ao nosso trabalho somos agredidas psicologi-
camente e ate fisicamente, ha muita brincadeiras e muitos gritos, e desumano lecionar nesse clima, meu dedo ja foi prendido na porta(nao foi por querer), mas a brincadeira de muito o barulho na sala de aula se medido deve ultrapassar 100 decibeis, ha violencia entre os alunos brigas, esse ano ja presenciei uma briga que ocasionou um desmaio por nocaute, um aluno em outra escola bateu a cabeca do outro no armario por 3 vezes, ambos forma suspenao , mas , nao temos treianamento de como lidar com isso, so chamamos a direcao mas, pode haver casos que essa atitude sera tarde.
a direcao nao trabalha pois o barulho e insuportavel, e escreve para a Diretoria de Ensino que o professor nao possui perfil, deixando de analisar todo o empenho e formacoes do mesmo, os paais procuram a Diretoria de Ensino para queixar-se do professor ou do aluno conforme o assunto e desenrolado , os mesmos levam a sala de aula celulares e baralhos, ficando a cargo do professor a retirada dos produtos, isso seus pais nao falam na diretoria, so mostram seus cadernos sem nada , pois o aluno se recusa a fazer suas atividades e fica gritando e andando o tempo todo.
O diretor se ve no dever de passar o professor para pericia medica e substitui o medico e o professor e requer ex -oficio a pericia em questao , para se livarar do professor pois o aluno gostariam de um outro professor as vezes um mais conhecido da localidade que atendesse suas vontades.Os filmes que eles assistem sao o filme que eles levam, o relatorio do filme nao aparece para analise, entao ha coesao , desrespeito e crime contra o servidor que se obriga a atender o desenrolar de sua atividade em ocorrencias graves , que ele nao praticou, mas, que ele tem que responder perante muitos sua via toda.
cotejo- muitas brincadeiras
brincadeira de muitos e o barulho
ambos foram suspensos
pais
Se recusa a fazer.Suas atitudes sao desonestas e ficam gritando e andando o tempo todo para impedirem o professor de explanar e ministrar sua aula.(interferem nas salas vizinhas, pois os demais professores a alunos tambem sao prejudicados).
requer a questao por meio de guia medica ex oficio,para se livrar do professor
o serlvidor se obriga a atender o desenrolar de sua atividade em ocorrencias graves, que ele nao proaticou, mas, que ele tem que responder perante muitos durante sua vida toda e fica sujeito a gastar o que nao possui , e submedito a viagens para a capital do estado , custos das mesmas e os alunos no periodo ficam bonzinhos e com ganho de causa, se estudam nao sei , mas, que prejudicam, prejudicam isso eu sei.
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