sábado, maio 05, 2007

Ternura

"A imaginação despertava a ternura.

Ternura? Sim, e amor, e excitação. Os noivos, por exemplo, sentiram que não estavam ali a fazer nada em comparação com o que poderiam fazer se recolhessen ao pequeno quarto. Afinal, o noivo era um dos que dentro de escassos dias sairia para Mueda. O prenúncio de vitória que chegava daquela forma tão evidente na noite do seu próprio casamento impelia-o para o amor como as sementes para a terra. O noivo receou que o seu robe se abrisse e se descompusesse. A sua espingarda de carne irrompesse no terraço como um ramo que se solta. Comprimi-a, mas enquanto os outros enxergavam com binóculo, ele pressentia as coisas sem as olhar e metia as mãos como duas centopeias pelo decote da noiva até se apoderar dos dois montículos de Evita. Aliás, ali mesmo, no terraço, podiam ambos soltar pequenos gemidos sem que nonguém desse por isso, uma vez que todos os seus, ainda que aparentemente por outros motivos".


Lídia Jorge, em "A Costa dos Mumúrios"

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