"A explicação do capitão Jaime Forza Leal, com a camisa aberta sobre a nesga da cicatriz, era inesperada, mas ao mesmo tempo tão reveladora que várias pessoas do cortejo se sentiram a princípio chocadas pela estupidez, depois sentiram ódio pela estupidez e a seguir indiferança pela estupidez. Não se conseguia ter solidariedade com quem morria por estupidez como aqueles blacks. Entreolharam-se estupetactos. Já não importava quantos mainatos não tinham regressado ao seu subtil emprego. Já não importava - e mulher de oficial que vertesse uma lágrima, furtiva que fosse, por qualquer mainato desaparecido durante aquela noite, deveria ser considerada estúpida. De repente, as roupas de dormir em que a maioria se encontrava no hall roçagaram duma outra maneira. Tudo parecia distinto do que tinha sido imaginado, ficando de súbito aquela madrugada sem piedade e sem beleza, já que havia um caso de estupidez atrás. Esse molho acre, e sudoroso, a estupidez. Como era possível?"
Lídia Jorge, em "A Costa dos Mumúrios"
domingo, maio 06, 2007
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