Procurei-te a vida toda. Mesmo em criança já sonhava contigo e desejava ardentemente o dia em que me vinhas salvar montado no teu cavalo branco. Em tantos rostos parecia reconhecer-te mas enganava-me sempre.
Tu nunca apareceste. Senti-me tentada a desistir mas achava que era o único sonho que me mantinha presa à vida ainda que o fio fosse frágil. Pensei nas razões que te mantinham distante. Pensei até gritar de desespero. Nada me convencia de que não passavas de uma farsa, de uma ilusão.
Nem imaginas o que me custa apagar-te dos meus sonhos simplesmente porque não existes. Porque mesmo ausente me fizeste perder a cabeça e me esvaziaste o coração. Recordo as palavras ingénuas, os delírios, os pressentimentos e o que traziam: mágoas, decepções, tristezas. Palavras gastas pela crença no herói romântico que me ia amar sem limite e eu retribuía da mesma forma.
As quedas, a evidência da tua inexistência foram-me desgastando. Nada valeria para mim sem ti, tudo seria insignificante sem o teu amor eterno. Não é que agora acredite que há algo mais valioso do que o amor. Simplesmente não acredito da mesma forma ou da forma que gostaria… Mas é irreal.
Não posso viver mergulhada numa crença, num mito que me magoa constantemente. Tenho de viver a realidade, neste mundo, da maneira como ela se me apresenta. Não posso olhar para um homem e ver nele a tua alma, quando é apenas um homem igual a tantos outros, com virtudes e defeitos.
Não obstante, grito por ti, sangra-me o coração por não existires, fico arrasada por te abandonar nesta espera sempre em desespero. Mesmo na realidade onde não estás reclamo por não apareceres. Mesmo mudando o rumo dos meus passos, olho para trás à tua procura, vou devagar, paro na esperança de me chamares e eu correr para os teus braços. Mas tu não me ouves ou não estás lá.
O mínimo ruído alimenta a minha esperança. Volto a olhar, mas nada. Como dói não me teres encontrado. Como dói não te ter conhecido apesar de jurar conhecer-te desde sempre e reconhecer-te no primeiro olhar. Chamam-me mas do outro lado. Não tenho alternativa, mas ninguém me obriga a ir por este caminho, fui eu que o escolhi.
Encontro o meu carro. Finjo não encontrar a chave. Mas ela aparece logo. Deixo a porta aberta à espera que corras e me impeças de partir. Continua a não se passar nada para além do meu desespero gritante escondido por um sorriso de nostalgia. Entro e fecho a porta. Não vieste. Uma última oportunidade. Ligo a chave e arranco. Sempre em frente.
Ainda passo por ti e reparo que me vês mas nada fazes. És um príncipe muito frouxo. Nem te aceno na despedida. Carrego no acelerador. Não fizeste um gesto para me impedires de partir. Pensas que volto. Enganas-te. O ponteiro da velocidade mais elevado. Não voltarei para te vir buscar.
Gosto da estrada. Sou livre. A velocidade satisfaz-me. No meu corpo indiferente ao novo ambiente bate um coração desfeito, a explodir...
A revolta de te perder antes de te encontrar. A dor de te deixar sem te dar o amor. Assim se foi a historinha do príncipe encantado e da gata borralheira. Sem príncipes. Assim serei eu feliz. Assim esmaguei com raiva o teu retrato, rasguei as tuas fotos, destruí os teus objectos e queimei as tuas roupas. Assim dilacerei a tua alma, parti aos bocadinhos o teu coração de porcelana e enfiei-o no contentor da reciclagem. Assim arranquei do meu cérebro as tuas filosofias e ideais. Assim aspirei os meus sentimentos e deixei o meu coração vazio.
Sandra Bastos
Novembro 2006
domingo, dezembro 17, 2006
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