"- Tu já mataste alguém?- inquiriu Jordan animado pela intimidade que a escuridão favorecia e por um dia passado em comum.
- Sim, muitas vezes. Mas nunca me senti satisfeito. Para mim matar um homem é pecado. Mesmo quando são fascistas que é preciso matar. Eu, por mim, acho grandes diferenças entre um homem e um urso e não acrediro nessa bruxaria dos ciganos a respeito da fraternidade com animais. Não. Eu sou contrário à matança de homens.
- E, no entanto, mataste.
- Sim. E voltarei a matar. Mas se escapar com vida hei-de fazer o possível por viver de modo a não fazer mal a ninguém, a fim de ser perdoado.
- Por quem?
- Quem é que sabe? Desde que não há Deus, nem Filho, nem Espírito Santo, quem pode perdoar? Eu não sei.
- Então já não tens Deus?
- Não, homem. É certo que não. Se houvesse Deus ele nunca permitiria que visse o que tenho visto com estes que a terra há-de comer. Podemos deixar-lhe o Deus.
- Eles reclamam-no.
- É claro que Ele me faz falta, pois fui educado com religião. Mas agora um homem tem de ser responsável por si.
- Nesse caso és tu que tens de perdoar-te pelas mortes feitas.
- Creio que sim - concordou Anselmo. - Já que pões a questão nesse ponto, parece-me que deve ser assim. Mas, com ou sem Deus, estou convencido de que matar é pecado. Para mim tirar a a vida de outra pessoa é coisa de muita gravidade."
Ernest Hemingway, em "Por Quem os Sinos Dobram"
terça-feira, julho 31, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário